Em seminário de educação, Pró-Saúde discute “déficit de natureza” na infância

(Foto: divulgação)

O evento contou com apresentação cultural, palestras e a participação de 180 espectadores

No lugar das brincadeiras de quintal, a diversão se limita aos apertados cômodos de apartamento. Praças e parques saem de cena para dar espaço aos prédios. Os jogos na rua são substituídos por videogames. Não é de hoje que o contato com a natureza vem diminuindo entre as crianças, mas algo que muitos não sabem é que essa falta de vínculo tem afetado a saúde e o desenvolvimento infantil.

Este foi o tópico central das discussões propostas pela Pró-Saúde no 12° Seminário de Educação Infantil. Com o tema “Educação, natureza e territórios: a criança e suas vivências”, o evento online discutiu a importância do brincar na natureza, como aplicar esse contato na prática e as particularidades do mundo visto pela criança.

Ana Carolina Tomé, pedagoga e especialista em educação lúdica, alertou que é na falta de contato entre a criança e o ambiente natural, que surge o que especialistas têm chamado de “déficit de natureza” ― um problema caracterizado pelo surgimento de diversos sintomas nesse público, que em situações e gerações anteriores não ocorriam, como depressão infantil, obesidade, hiperatividade, miopia e déficit de atenção.

“Identificado por Richard Louv no livro ‘A última criança na natureza’, esse tipo de “transtorno” não é considerado uma alteração na saúde ou doença oficialmente, porém já existem pesquisadores que investigam o impacto da falta de acesso à natureza no desenvolvimento infantil”, explica a pedagoga.

Jonathas Muller, pedagogo e especialista em educação para crianças de zero a três anos, apontou para a importância de as crianças explorarem as particularidades do mundo percebido por elas.

“É preciso romper com o discurso do tipo “se aprende brincando”, porque essa visão torna o ensino apenas conteudista. Entendemos que não há um conteúdo específico, e sim um processo intenso de investigação, elaboração, criação e compreensão para concretizar o processo de aprendizagem infantil”, explica o profissional.

Para o pedagogo, a prática de brincar livremente passa por quatro dimensões que ajudam o bebê e a criança a desenvolverem suas habilidades motoras e cognitivas ao longo de seu crescimento: a exploração, o encaixe, as coleções e construções de objetos oferecidos ao longo de seu desenvolvimento.

“A cada processo que a criança passa, ela ganha mais repertório, aumentando pela percepção própria, as dimensões do material com que elas brincam. Por meio disso, percebemos que elas têm sua compreensão sobre o que as cerca, por isso, precisamos buscar possibilidades para ela. A criança potente depende de um adulto potente para acompanhá-la”, reforça o pedagogo.

 

Como construir uma boa relação com a natureza

Ana Carolina e Jonathas Muller concordam que é necessário criar uma frequência das atividades com as crianças na natureza. Além disso, é importante pensar nas possibilidades de ambientes e instrumentos que podem ajudar nesse processo de conhecimento e encontro com o verde.

“Muitas vezes, uma lupa já ajudou na investigação daquilo que está escondido entre o tronco de uma árvore, e isso já gera conhecimento”, exemplifica Ana.

Cristiane Malta, engenheira ambiental da Pró-Saúde, aponta que o brincar também pode estar aliado à preservação dessa natureza. Sabendo que as crianças refletem aquilo que vivenciam com os mais velhos, os adultos são responsáveis por introduzi-las no ambiente verde.

“Qual mundo as crianças estão conhecendo? E qual o mundo queremos deixar para as crianças? Atividades simples são capazes de transmitir essa conscientização, como a construção de brinquedos a partir de papelão, entrar em contato com alimentos e brincar com a água, são exemplos de ações em que as crianças aprendem, compreendem e cobram dos adultos”, afirma a engenheira ambiental.

A Pró-Saúde, realizadora do evento, gerencia unidades de saúde em todo o Brasil e, também, quatro Centros de Educação Infantil (CEIs) na capital paulista, que atendem cerca de 670 crianças de zero a três anos. Por meio de convênio firmado com a Prefeitura de São Paulo, via Secretaria Municipal de Educação, a entidade mantém sob sua gestão os CEIs Jardim Eliane, Jardim São Jorge, Lageado e Santa Rita, na zona Leste de São Paulo.

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