Professor de Psicologia do UniCuritiba explica por que romantizar a sobrecarga de trabalho é um risco à saúde física, mental e emocional
O excesso de trabalho pode reduzir a produtividade. Essa é uma das principais conclusões de um estudo elaborado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Segundo o levantamento do organismo ligado à ONU, um terço dos profissionais do mundo trabalha mais de 48 horas semanais. A média de horas extras não remuneradas também cresceu de 7,3 para 9,2 horas por semana.
Psicólogo e coordenador da Comissão de Psicologia Organizacional e do Trabalho do Conselho Regional de Psicologia em Curitiba, Guilherme Alcântara Ramos diz que há um componente cultural que reforça esses números: a romantização da exaustão. Segundo ele, as pessoas são reconhecidas por trabalhar nos finais de semana, abrir mão das férias ou exceder, rotineiramente, a jornada diária.
“Para muita gente, dormir mal e viver sobrecarregado é a ‘prova’ de uma vida produtiva. Quem defende o contrário e valoriza horas de descanso e lazer recebe críticas, que são atribuídas à falta de objetivos, de determinação e de comprometimento com o futuro e o sucesso”, avalia o professor do curso de Psicologia no UniCuritiba – instituição que faz parte da Ânima Educação, o maior e o mais inovador ecossistema de ensino do país.
Ser workaholic (viciado em trabalho) não chega a ser novidade em ambientes corporativos, mas se antes era visto como um defeito ou problema, hoje ganhou um novo status. Ser ou parecer sobrecarregado tem, implicitamente, uma boa dose de glamour na sociedade atual.
O problema, explica Guilherme, é que ignorar a necessidade de descanso e de lazer afeta tanto a saúde mental quanto o bom desempenho profissional. “O ócio é saudável, assim como cuidar da alimentação, ter um sono de qualidade, fazer atividades físicas e manter relacionamentos e interações sociais ou familiares. É o equilíbrio disso tudo que torna as pessoas mais produtivas. Quem gerencia bem a rotina de trabalho e de descanso toma decisões mais rapidamente e com mais qualidade. Ou seja, produz mais.”
Tendência mundial
Milhões de profissionais em todo o mundo trabalham demais porque acham que o sucesso está relacionado ao total de horas que passam estudando ou trabalhando. Uma pesquisa da Maxis GBN realizada em diversos países mostra essa tendência mundial.
Os Emirados Árabes lideram o ranking. Por lá, cada trabalhador faz em média 24 horas extras por mês. Estados Unidos e Hong Kong vêm logo atrás (23,2 horas extras mensais). O Brasil aparece após a França, a Índia e a Rússia. Por aqui, de acordo com a pesquisa, cada profissional faz cerca de 18 horas extras por mês.
O resultado, reforça o estudo, é uma cultura improdutiva e insalubre, com aumento nos casos de depressão, burnout e presenteísmo – quando o trabalhador está no local de trabalho, mas não tem produtividade.
Dicas para evitar a sobrecarga
Para quem deseja se livrar da síndrome de super-herói e da falsa ideia de que sucesso e dinheiro estão diretamente associados à uma rotina exaustiva de trabalho e de compromissos, o professor de Psicologia do UniCuritiba, Guilherme Alcântara Ramos, dá algumas dicas.
- Tenha como meta o equilíbrio entre trabalho, estudo e descanso. Não se torne um escravo do dinheiro, da fama e do status.
- O dia deve ser dividido em três partes. Uma para o trabalho, uma para o lazer ou a família e outra para o descanso.
- A sobrecarga de atividades compromete a energia vital, aumenta a ansiedade e desencadeia sentimentos como decepção e frustração. Evite-a.
- A romantização da sobrecarga de trabalho coloca em risco a saúde física e mental. Avalie se vale a pena comprometer o equilíbrio diário em prol de um objetivo fora da realidade.
- Não aceite cargas excessivas de trabalho ou de compromissos. Estabeleça limites.
- Não incentive a sobrecarga ou romantize a exaustão. Se perceber que um familiar ou amigo está excessivamente cansado, ofereça apoio e ajude-o a reorganizar a agenda.
- Se você ou um conhecido precisar de ajuda, conte com um psicólogo ou médico para iniciar um tratamento e recuperar sua saúde física e mental.
- Não incentive familiares ou amigos a permanecer em um emprego desgastante. Seja aliado na busca por soluções e novos caminhos.
- Defina prioridades. Ninguém consegue fazer tudo ao mesmo tempo. Mantenha o foco no que realmente é importante.
- Aprenda a administrar seu tempo e faça um planejamento das atividades do dia. Não negligencie o descanso.