Cirurgião plástico destaca quais são os principais efeitos colaterais dos procedimentos mais realizados em consultório e como lidar com eles
Botox, preenchimento com ácido hialurônico e fios de PDO são procedimentos consolidados nas clínicas de estética. Embora já sejam bastante estudados e considerados seguros, como qualquer tratamento médico, a aplicação desses produtos pode gerar efeitos colaterais e complicações.
Segundo Matheus Manica, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, os procedimentos minimamente invasivos são alternativas muito interessantes para o rejuvenescimento já que, em geral, não demandam longos tempos de recuperação e apresentam resultados praticamente imediatos.
O médico destaca que algumas reações ou efeitos colaterais mais comuns são leves e podem ser tratados de forma simples. No entanto, Matheus ressalta a importância do acompanhamento médico pós-procedimento para identificar possíveis problemas mais profundos.
Toxina botulínica
Há mais de 30 anos no mercado, as injeções com toxina botulínica são usadas para reduzir rugas e linhas de expressão. Entre os principais efeitos colaterais estão reações simples como dor de cabeça, que pode ser tratada com medicamentos como paracetamol. Além disso, hematomas e inchaço local podem aparecer e normalmente uma compressa fria é suficiente para conter o quadro. Embora sejam sintomas simples, se persistirem, o médico deve ser consultado para investigar a causa.
Além dessas reações, Matheus destaca que outras complicações mais sérias, apesar de muito raras, podem surgir a depender da qualidade do produto e da experiência do profissional de saúde. Entre elas estão as reações alérgicas e a ptose palpebral.
As alergias podem incluir sintomas como inchaço, vermelhidão, coceira e urticária. Nesses casos, o tratamento foca nos sintomas. “Anti-histamínicos podem ser prescritos para aliviar a coceira e a urticária. E, em casos mais graves, pode ser necessário um corticóide para reduzir a inflamação”, aponta o cirurgião.
Já a ptose palpebral, conhecida popularmente como pálpebra caída, pode muito raramente se tornar um caso cirúrgico. “No geral, o tratamento para essa condição causada pela toxina botulínica envolve esperar a substância ser eliminada do corpo. Mas em casos mais graves, como quando afeta a visão, a cirurgia pode ser necessária, envolvendo inclusive o reposicionamento do músculo responsável por levantar a pálpebra”, afirma Matheus.
Matheus complementa que a toxina botulínica é degradada pelo corpo humano, com efeitos que duram cerca de três a seis meses. Isso significa que o tratamento é reversível e a paralisia da atividade muscular é temporária, o que também implica que são necessárias novas injeções periódicas para manter os resultados.
Preenchimento
O preenchimento é utilizado para corrigir vincos na pele, incluindo linhas de expressão mais profundas, e para estruturar e repor o volume facial perdido conforme envelhecemos. A técnica pode ser realizada com materiais permanentes ou degradáveis. O segundo tipo, em que o ácido hialurônico se enquadra, é mais recomendado já que é reversível e desencadeia menos efeitos colaterais.
Os preenchedores à base de ácido hialurônico podem causar sintomas parecidos com a da toxina botulínica entre inchaço, hematomas, vermelhidão, além de sensibilidade na área de aplicação.
Porém, outros efeitos indesejados preocupam mais, desde o deslocamento da substância, passando por depósitos de produto, ou uso excessivo. Em casos raros, infecções também podem surgir, sendo necessário recorrer a antibióticos.
Matheus destaca que em áreas em que há muito movimento, como a boca, são as que normalmente pode ocorrer um deslocamento do ácido hialurônico. Nesses casos, o procedimento pode ser revertido com aplicação de hialuronidase, uma enzima que acelera a degradação da substância, com efeitos que aparecem em até 48h. Usar um ácido com a consistência adequada para essa região e utilizar técnicas adequadas ajudam a diminuir a chance de isso ocorrer.
Em relação ao uso excessivo, a reversão com enzima também pode ser indicada. “O plano de tratamento individual, pensando a partir das especificidades de cada paciente e sem usar uma mesma “receita de bolo” para todo mundo pode evitar esse excesso, trazendo resultados naturais”, destaca o cirurgião.
Em outros casos, a substância pode se acumular, deixando resíduos no organismo. É comum que esse efeito seja resultado de produtos de menor qualidade. O cirurgião alerta que é importante escolher profissionais de saúde de confiança que usam produtos registrados e testados.
Já os preenchedores permanentes são, de maneira geral, contraindicados pelo médico. “Temos que lembrar que nosso rosto não é permanente: nossa pele, gordura, músculos e ossos se alteram conforme envelhecemos. Um preenchedor permanente não vai se adaptar a essas mudanças e, além de ser muito difícil de retirar do organismo, mesmo com cirurgia, pode causar inflamação e efeitos colaterais muitos anos após a aplicação”, reforça o especialista.
Fios de PDO
O mais recente dos tratamentos citados, os fios são construídos com polidioxanona, um polímero sintético, mas que é degradado pelo corpo. O principal objetivo do tratamento é o efeito lifting através do estímulo de colágeno, ou seja, levantar e sustentar a pele, promovendo firmeza. Além dos fios de PDO, opções permanentes também existem, embora sejam menos recomendadas.
Matheus destaca que o uso de fios de PDO da maneira incorreta pode gerar irregularidades na pele e, a depender da qualidade, eles podem se romper. Em casos leves, a pele pode se adaptar aos fios, reduzindo as irregularidades, e massagens suaves podem ser indicadas para reduzir os efeitos. Em casos mais graves, a remoção cirúrgica dos fios pode ser indicada.
Os fios de PDO são projetados para serem degradados lentamente pelo corpo, ampliando a duração do tratamento e trazendo outros benefícios como o estímulo de colágeno. No entanto, em alguns casos o rompimento pode interromper esse processo.
“Nesses casos, pode ser que o fios rompidos não gerem quaisquer efeitos, mas é a observação e acompanhamento constantes que dirão ao médico se é necessária uma intervenção para remoção. Não é só fazer os procedimentos, mas também acompanhar a evolução”, afirma Matheus.
Sobre Matheus Manica
Cirurgião Plástico, pós-graduado e especialista em Dermatocosmiatria pela Faculdade de Medicina do ABC. Professor de Estética da Faculdade de Medicina do ABC. Membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.