BBB 23 chega ao fim reafirmando sua importância social e escancarando o racismo estrutural no Brasil

O que podemos aprender com o resultado do BBB 23?

 

O Big Brother Brasil 23, reality show transmitido pela Rede Globo, encerrou suas atividades ontem, e o desfecho parece ter desagradado muitos espectadores. Não há nada contra Amanda, uma mulher admirável e com todos os requisitos para ser a vencedora, exceto pelo contexto atual em que vivemos. Esta edição se destacou por contar com o maior número de participantes negros em sua história. No entanto, culminou com baixa audiência e uma vencedora branca, que conquistou o prêmio histórico de mais de 2 milhões e oitocentos mil reais. Esse desfecho convida-nos a refletir sobre a sociedade e a cultura brasileira, abordando temas como preconceito, discriminação e racismo estrutural.

Muitas discussões têm girado em torno do “fracasso” do BBB 23, mas é preciso reconhecer que a conversa instigada pelo programa este ano abordou temas desconfortáveis, muitas vezes evitados, como assédio. Boninho acertou na seleção do elenco, representando estereótipos presentes na realidade brasileira, mas o programa não alcançou o engajamento esperado.

A edição fez história ao selecionar um elenco mais diversificado, buscando aproximar o programa da realidade brasileira. Contudo, a baixa audiência sugere que a sociedade talvez não estivesse preparada para enfrentar questões tão profundas quanto as levantadas durante a edição.

Até mesmo pessoas que se consideram “esclarecidas” e se autodeclaram “antirracistas” não estão imunes a comportamentos racistas, frutos de uma herança cultural. Um exemplo disso é a hostilidade direcionada à finalista e segunda colocada, Aline Wirley. Aline, como mulher negra, poderia fazer qualquer coisa no programa, exceto o que a maioria do público julgava certo para ela. Ao reafirmar suas escolhas e preferências, foi atacada. Sua fama de “não jogadora” foi tão grande que o humorista Paulo Vieira, sempre atento ao que acontece na internet, a anunciou como vencedora de melhor “não jogadora” do programa, constrangendo a cantora do Rouge. Será que era realmente necessário? Talvez não, mas isso nos leva a entender que o problema é ainda mais profundo.

O programa tenta lidar com o peso social que carrega, o que não é fácil. Patrocinadores têm adquirido o hábito de querer interferir nos programas. Ontem, Paulo Vieira afirmou: “Big Brother é dinheiro, se fosse para educar, estaríamos na Cultura”.

É crucial analisar esse contexto com cuidado e respeito, a fim de compreender as complexidades e desafios enfrentados pelos participantes negros e pela vencedora branca.

O Brasil é um país marcado por uma história de escravidão e racismo, que persiste até os dias atuais em diversas formas, inclusive no racismo estrutural. Esse racismo se manifesta em todos os aspectos da vida cotidiana, desde a distribuição de renda e acesso a oportunidades até a representatividade na mídia e na política. Nesse sentido, a presença de pessoas negras no BBB 23 evidenciou a luta por inclusão e representatividade, mas também expôs as dificuldades e o preconceito enfrentados por essa parcela da população.

Os episódios de discriminação e racismo vivenciados pelos participantes negros durante a edição servem como um microcosmo da sociedade brasileira, onde tais atitudes ainda são corriqueiras e, muitas vezes, naturalizadas. A discussão desses temas no programa, no entanto, gerou debates importantes sobre a necessidade de enfrentar o racismo e promover a inclusão e a igualdade racial.

A vitória da participante branca, apesar da maior diversidade do elenco, pode ser interpretada de diferentes maneiras. Por um lado, pode-se questionar se ela é um reflexo das preferências do público, que ainda está enraizado em uma cultura de privilégio e discriminação. Por outro lado, é importante ressaltar que a vencedora também enfrentou desafios e teve méritos, demonstrando que o debate sobre o racismo deve ser complexo e abrangente.

A edição 23 do BBB nos convida a refletir sobre o papel da mídia e da sociedade na promoção da igualdade racial e na luta contra o racismo. Ao abordar temas difíceis e controversos, o programa teve o potencial de educar e sensibilizar o público sobre questões raciais, servindo como um espaço para a discussão e a transformação.

Em suma, o BBB 23 trouxe à tona questões fundamentais sobre a sociedade e a cultura brasileira, servindo como uma oportunidade para enfrentar o preconceito, a discriminação e o racismo estrutural. A baixa audiência e o resultado do programa nos convidam a refletir sobre como podemos, enquanto sociedade, trabalhar para construir um futuro mais igualitário e inclusivo.

A mídia e os formadores de opinião têm um papel crucial na promoção da diversidade e no combate ao racismo. É importante que os veículos de comunicação continuem a abordar essas questões de forma responsável e educativa, trazendo histórias e perspectivas diversas à tona. Além disso, é fundamental que a sociedade como um todo se engaje em discussões e ações que promovam a igualdade racial e combatam a discriminação.

A edição 23 do BBB, apesar de suas contradições e desafios, serviu como um importante catalisador para o debate sobre racismo e inclusão no Brasil. Agora, cabe a cada um de nós levar adiante as reflexões e lições aprendidas, trabalhando juntos para construir um país mais justo e igualitário. A mudança começa no diálogo, na educação e no entendimento das desigualdades existentes, e a partir daí, podemos criar soluções efetivas e duradouras para os problemas de discriminação e preconceito em nossa sociedade.

Seja por meio de ações individuais ou coletivas, o importante é que continuemos a promover a diversidade, o respeito e a igualdade racial, tanto no âmbito pessoal quanto no profissional e midiático. A edição 23 do BBB nos mostrou que ainda há muito a ser feito, mas também nos ofereceu a oportunidade de avançar na luta contra o racismo e a discriminação, inspirando-nos a buscar um Brasil mais inclusivo e igualitário para todos. Algumas pessoas afirmam que o “BBB deveria acabar”, mas discordo completamente. O programa deve continuar, pois possui relevância social e a capacidade de trazer à tona assuntos urgentes, transformando-os em pautas de discussão nacional.

O BBB tem potencial para ser uma plataforma que promove mudanças significativas no pensamento e nas atitudes da sociedade. Ao continuar abordando temas relevantes e proporcionando espaço para discussões profundas e reflexões, o programa pode desempenhar um papel importante na conscientização e na evolução do pensamento coletivo.

Por fim, é essencial que todos nós, como espectadores e cidadãos, estejamos abertos a aprender e nos engajar em questões sociais importantes, como o racismo e a discriminação. O BBB 23 nos mostrou que o caminho para uma sociedade mais justa e igualitária é longo e cheio de desafios, mas a jornada começa com o reconhecimento dessas questões e a disposição para enfrentá-las juntos. Vamos nos inspirar nesta edição do programa para continuar trabalhando em prol de um futuro melhor e mais inclusivo para todos os brasileiros.

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