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Maternidade sem filtros: Conheça a história da Tatah Fávero

Em bate-papo com a D’Idées, Tatah Fávero conversa sobre os desafios da maternidade, conta como é a sua rotina com o Dom, e a necessidade de mostrar a maternidade real para os seus seguidores

A maternidade é uma experiência transcendental, repleta de alegrias, desafios e transformações. É uma jornada que se inicia muito antes do nascimento, mas que se estende ao longo de toda a vida. Nesta edição, queremos destacar as mulheres que abraçam a maternidade de forma autêntica e que se recusam a se prender a estereótipos irreais, além disso é uma caminho repleto de emoções e obstáculos, e cada mãe enfrenta sua própria trajetória. Essas mães não são definidas pela imagem estereotipada de perfeição, mas sim pela sua coragem, força e amor incondicional. Elas estão quebrando padrões e mostrando ao mundo que a maternidade é um exercício de auto aceitação, empoderamento e superação constante.

E para isso nós conversamos com a Tatah Fávero que é  influencer digital e mãe do Dominic de quatro anos que possui Síndrome de Down. E através das redes sociais a Tatah mostra uma conexão de aconchego e de muita troca com as milhares de mulheres que acompanham seu Instagram e TikTok. Além disso, o seu conteúdo é focado para o empoderamento feminino, além de mostrar sobre as dores e vitórias de uma  maternidade atípica. Confira o bate-papo!

D’Idées: Como você vê o papel da maternidade em sua vida? E quais são as maiores lições ou aprendizados que a maternidade trouxe para você?

Tatah: Bom, quando eu vejo que o Dom já está com quatro anos de idade e já tem cinco anos que ele está na minha vida (considerando o período da gravidez) e analisando tudo que construímos até aqui, todas as histórias que já chegaram até nós e relatos de pessoas que ficaram mais felizes, tranquilas e acolhidas depois de conhecerem a nossa a nossa história, eu hoje entendo que a maternidade veio pra dar propósito a minha comunicação. Eu sempre tive uma comunicação limpa e transparente que conversasse com mulheres e que fosse acolhedor, mas a maternidade veio pra dar o maior propósito na minha vida, que é justamente conversar com mães atípicas, acolher histórias e mudar um pouquinho o mundo, pelo menos a minha comunidade que me acompanha. O Dom foi uma criança que a gente quis muito, mas quando ele nasceu e veio com todos os desafios, com todas as novidades, a gente entendeu que realmente nenhuma criança é planejada toda criança vai ter sua particularidade tendo ela deficiência ou não e cabe a nós ver o que que a gente faz com isso e no meu caso é lutar pela inclusão não só do Dominic mas de crianças com deficiência  a partir da nossa visibilidade no mundo da música e da mídia. E para gente poder mostrar que as pessoas com deficiência existem e estão aqui e merecem felicidade plena na vida.

A maternidade do Dom veio para me mostrar que a gente não tem controle sobre nada na nossa vida, por mais que a gente tenha planejado.

Tatah Fávero

D’Idées: Como você equilibra as suas demandas diárias com a maternidade?

Tatah: Quando me perguntam sobre isso, digo que eu não equilíbrio e não consigo dar conta de tudo. Eu estabeleço prioridades, por exemplo hoje a minha prioridade depois de tanto tempo fazendo terapia é entender que a gente nunca vai dar conta de tudo e precisamos curtir a vida. E todos os dias a gente tem coisas para fazer e precisamos valorizar o que a gente fez, pois sempre vamos viver nessa coisa de estar em falta, então eu tento muito aprender equilibrar porque é um verdadeiro desafio para mim porque eu tenho muita mania de ficar pensando “ai não consegui fazer isso ou aquilo”.

D’Idées: Quais foram as suas principais preocupações e desafios ao criar uma criança com síndrome de Down? E como você encontrou suporte e recursos para lidar com essas questões?

Quando recebemos a notícia da síndrome de down do Dom ele já tinha nascido e foi no dia da alta do hospital que o médico contou para a gente que estava rolando um “boato” no hospital de que o Dom tinha nascido com síndrome de Down. E aí ficamos assustados porque não tinha sido conversado com a gente. E não deveria ser dito dessa maneira, e eu acho que é uma situação muito séria que a gente precisa ter acompanhamento de psicólogos justamente para receber uma orientação do que precisamos fazer.

O Dominic saiu do hospital sem fazer ecocardiograma, é o exame mais importante para uma criança que nasce com Síndrome de Down e a partir desse exame é possível verificar se a criança nasceu com cardiopatia congênita que é alteração no coração. E isso é muito comum em crianças com síndrome de Down e o Dom por ter sido uma suspeita não fizeram o cardiograma nele e fomos para casa sem o exame. E depois corremos atrás de fazer exame de sangue e de cariótipo, porém demora para sair o resultado, tanto que eu fui receber a confirmação que o Dom tinha a trissomia do 21 quando ele já tinha dois meses de idade. Então, olha quanto tempo que eu fiquei me cobrando, sabe? E nessa época muitas coisas aconteceram, eu tive depressão pós-parto sinistra e fiquei muito mal e sinto que faltou um pouco esse acolhimento. 

E quando eu digitava no google sobre o diagnóstico do Dom eu encontrava só histórias de morte sabe? E isso me deixou aterrorizada eu questionava “meu Deus então se é esse diagnóstico do meu filho eu não tenho mais vida, acabou!” e bate um desespero e eu fiquei muito preocupada. 

E foi aí que vieram as redes sociais eu encontrei muitas famílias compartilhando sua maternidade real e então eu percebi que realmente não seria fácil mas poderia ser muito bonito criar essa comunidade e comecei a aprender com essas famílias sobre quais as terapias que eu precisava e quais os médicos que o Dom precisava. E diariamente eu aprendo muito com todos e isso foi muito bom para compreender o Dom e conseguir ajudar ele a desenvolver o seu próprio ritmo. E claro, proporcionando o melhor que a gente puder oferecer, mas sem esquecer que ele é um ser humano também e que não está apostando corrida com ninguém e sim respeitando o tempinho dele.

D’Idées: Existe algum mito ou estereótipo sobre a síndrome de Down que você gostaria de desmistificar com base na sua experiência com o Dom?

Tatah: Bom tem dois mitos que eu gosto de falar a primeira é a questão da descoberta da síndrome de Down que com a gente aconteceu depois do nascimento e de fato existem diversos exames que a gente faz no pré-natal durante a gravidez e um deles é o da translucência nucal e partir disso, caso ocorra alguma alteração é possível investigar e no caso do Dom, os exames foram “ok” mas depois eu fui pesquisar e descobri que realmente muitos diagnósticos ocorrem após o nascimento da criança.

Outro mito que eu gosto muito de quebrar é a questão do grau na síndrome de Down porque voltando na questão do fenótipo do Dom e a aparência dele as pessoas olham e falam “Ah mas o grauzinho dele é bem leve né?” Quando na verdade não existe grau leve ou pesado na Síndrome de Down. O que acontece é que a trissomia se desenvolve em cada um de um jeito apesar deles serem bem parecidos em muitos aspectos mas são diferentes enquanto seres humanos individuais. Então a gente não pode também colocar as pessoas numa sacola e falar que são todas iguais que são todas de tal jeito. E eles são pessoas, sabe? Antes dele terem deficiência eles são pessoas é por isso que a gente usa o termo pessoa com deficiência que é para a gente sempre lembrar que antes da deficiência eles são pessoas.

E aproveitando queria trazer um terceiro fato que eu gosto de desmistificar é que existe aquela crença de que a síndrome de Down só vai acontecer com mulheres mais velhas que engravidam na faixa dos 40 anos que para mim mulheres nessa faixa etária são super jovens. Eu tinha 26 anos quando o Dom nasceu e a minha faixa etária é considerada uma mulher muito jovem que ainda tinha muita que aprender. Mas na realidade o que acontece é que as chances vão aumentando conforme a mulher vai envelhecendo mesmo por questão de estar mais próxima da menopausa ou uma questão hormonal e mesmo que ainda existam muitos estudos ainda não se sabe muito bem a causa.

D’Iées: Para finalizar, que mensagem você gostaria de enviar para todas as mães neste Dia das Mães?

Tatah: Bom, antes de mais nada é manter a calma, pois você mãe não está sozinha! A gente pode não estar passando pelas mesmas coisas mas a gente se encontra na dor a gente se encontra na luta, então mantenha a calma. Além disso, não compare ele com outras crianças porque é muito cruel e injusto. É injusto com a criança, com você é injusto com as outras crianças é injusto com a sua família. Pois, criar expectativas em cima de um serzinho tão pequeno que ainda não tem nem dimensão do que é o mundo e além de tudo ele ainda carrega um cromossomo e tem uma deficiência, então de comparar além de cruel gera uma frustração e decepção. Então eu acho que devemos comparar ou julgar outras pessoas ou outras histórias porque todos nós estamos suscetíveis a isso e não existe um culpado. Então, não carreguem essa culpa. 

E se você está afim de assumir a luta do seu filho, sinta orgulho de quem ele é e você pode ter certeza que vai ter uma caminhada muito feliz gratificante ao longo da vida.

Nenhum filho vem ao mundo para corresponder às nossas expectativas sejam elas crianças típicas ou não. Toda criança no fim das contas requer uma atenção especial, cada criança tem suas particularidades, suas escolhas, suas doenças e dificuldades ao longo da vida.

Tatah Fávero

Crédito fotos: Maria Toscano.

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