O que o aquecimento global, a seca intensa e as tempestades têm a ver com as alergias?

Exposição a altas concentrações de ozônio induzem à inflamação das vias aéreas e aumentam o risco do agravamento da asma. Infecções respiratórias agudas associadas à poluição do ar doméstico causam 455 mil mortes

 

“Mudanças Climáticas Agravam Alergias: Preparem-se!” é o tema da Semana Mundial da Alergia, que acontece de 18 a 24 de junho. Uma das consequências dessas mudanças no clima é o aumento da ocorrência e da intensidade de eventos meteorológicos extremos e que já estão acontecendo em diversas partes do planeta, tais como longos períodos de seca, ondas de calor mais intensas e aumento da ocorrência de tempestades com grandes volumes de chuva.

De acordo com a Comissão de Biodiversidade, Poluição e Clima da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) esses eventos climáticos extremos afetam a saúde de diferentes formas. Mortes causadas por deslizamentos e inundações, por exemplo, favorecerem a proliferação de doenças e o agravamento das doenças alérgicas, contribuindo para o aumento contínuo da prevalência e gravidade das alergias associadas à perda da biodiversidade.

Outro aspecto importante da mudança do clima é o aumento da temperatura média da superfície do planeta, sendo esta uma das principais causas da carga global de doenças. Nos últimos 10 anos, ondas de calor mais frequentes e intensas têm colocado crianças menores de um ano em situação de alto risco. Períodos prolongados de ondas de calor em grandes cidades podem resultar em condições de baixa umidade relativa do ar e baixa ventilação, levando à deterioração da qualidade do ar.

Um dos principais responsáveis pelas mudanças climáticas é o excesso de poluentes despejados na atmosfera, que são deletérios à saúde humana. Por exemplo:

– Exposição a altas concentrações de ozônio induzem à inflamação das vias aéreas e aumentam o risco do agravamento da asma.

– Mudanças nos padrões de temperatura e umidade do ar combinadas à poluição atmosférica podem provocar maior sensibilização da população a polens (alérgenos extradomiciliares) mesmo nas regiões de clima tropical, e não somente em regiões subtropicais.

“Essa situação pode levar ao aumento da prevalência de rinoconjuntivite alérgica sazonal e, também, de exarcebações por asma com aumento de internações hospitalares e sobrecarga dos serviços de emergência. Esses poluentes atmosféricos também podem modificar estruturalmente alérgenos de polens, diminuindo seu diâmetro, facilitando a penetração em vias aéreas inferiores. Além disso, quando os níveis de gás carbônico (CO2) atmosféricos estão elevados, as plantas realizam fotossíntese aprimorada e aumentam fenômenos reprodutivos, com consequente aumento da duração da estação polínica”, explica a Dra. Marilyn Urrutia Pereira, Coordenadora da Comissão de Biodiversidade, Poluição e Clima da ASBAI.

 

Esse aumento da poluição do ar representa um sério impacto socioeconômico. Infecções respiratórias agudas associadas à poluição do ar doméstico causam 455 mil mortes e perda de 39,1 milhões de anos de vida ajustados por incapacidade anualmente.

O aumento da temperatura do ar e a maior incidência de secas, sobretudo na última década, têm propiciado o aumento da ocorrência de incêndios florestais, contribuindo para os efeitos prejudiciais à saúde associados à poluição do ar.

A Coordenadora da ASBAI explica que a gestante exposta à fumaça de queimadas tem o potencial de alterar a saúde e provocar doenças no feto. “Por essa razão, o conhecimento desses efeitos pelos profissionais de saúde são cruciais para a mitigação dessas exposições. Indivíduos nascidos prematuramente, ou com baixo peso ao nascer, expostos à fumaça de incêndio florestal podem ter maior risco de efeitos adversos à saúde respiratória no início da idade adulta, possivelmente relacionados à situação de piores fluxos expiratórios”, comenta dra. Marilyn.

Crianças menores de cinco anos, expostas a material particulado (PM2.5) de incêndio florestal, realizaram o dobro de visitas diárias às emergências por problemas respiratórios, em comparação a crianças maiores. O maior número de atendimentos de emergência e hospitalizações por causas respiratórias e cardiovasculares atingem grupos de maior vulnerabilidade, crianças e adultos com mais de 65 anos.

A mudança profunda no clima de determinada região também pode ser uma das causas que obrigam pessoas a migrar o que pode contribuir para o desenvolvimento ou agravamento de doenças alérgicas. Populações migrantes podem experimentar uma exposição abrupta a diferentes fatores ambientais no país anfitrião, lidando com diferentes condições climáticas e novos alérgenos, bem como a súbita e prolongada exposição a altos níveis de novos poluentes atmosféricos.

“Estratégias de adaptação e mitigação são urgentemente necessárias para prevenir o impacto nas doenças alérgicas e os danos à saúde humana em geral, especialmente nas populações vulneráveis, como os idosos, gestantes e crianças, assim como indivíduos com baixo nível socioeconômico ou com doenças pré-existentes”, alerta Dra. Marilyn Arrutia.

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