Não é novidade para ninguém que a pandemia mudou totalmente o curso das coisas. Seja na área do trabalho ou em como estamos lidando com as relações humanas, esse boom de informações e acontecimentos nos deixou mais alertas.
E para ser sincera, acho que esses últimos 3 anos só aceleraram algo que já tinha dado seu start: o cenário das policrises.
De acordo com a vice-presidente de Consumer Insights da WGSN Andrea Bell, “policrises” é o nome dado para a conjunção de crises que ocorrem sequencialmente. Quer um exemplo? Uma pandemia que afeta diretamente na inflação do país, o que gera uma insegurança econômica, que reflete em uma desigualdade social cada vez maior com a cereja do bolo sendo uma crise climática extrema.
Deu para perceber que esse não é um cenário hipotético, né?
Ninguém consegue sair ileso dessa enxurrada de informações e acontecimentos, e para conseguir passar por tudo isso, as pessoas acabam buscando por escapismos.
Não sei se você vai lembrar, mas bem no começo na pandemia, a moda dopamina e tendências dos anos 90 e 2000 começaram a ganhar mais e mais espaço. Uma pessoa que marcou muito essa virada de chave para mim foi a Manu Gavassi, dá só uma olhada:
Tudo bem, que isso também foi devido ao fato das pessoas que eram crianças nesses anos estarem na fase de “ditar moda”, o famoso ciclo dos 20 anos, mas vamos concordar que todas essas cores e referências nos transportam para uma época que, para nós, era bem mais fácil e confortável de se viver.
A partir daí as coisas foram se tornando maiores, mais coloridas e mais absurdas, como os polêmicos desfiles da Balenciaga, os cores, como o weird girl core ou o clown core, os desfiles de Kay Kwok no London Fashion Week ou da marca AVAVAV na semana de moda de Milão, e por aí vai.
A lista é grande, e temos uma certeza, a Geração Z, os mais novos consumidores do mercado, estão buscando no humor e nas estéticas absurdas um meio de escapismo. E é inevitável que esse seja um termômetro para o mercado, tanto que estamos vendo cada vez mais estampas com ilusão de ótica, peças com representações de partes do corpo em lugares inusitados ou tamanhos desproporcionais (alô, Schiaparelli), materiais como grama sendo usados em peças e designs que focam mais no “absurdo” do que no conforto e praticidade, como as Astro Boots da Mschf. Perceberam alguma semelhança com o surrealismo dos anos 20?
Uma coisa é certa, o estranhamento é a peça-chave para chamar a atenção, e as marcas não só estão cientes disso, como estão investindo em propostas cada vez mais absurdas. Em contrapartida, algumas coisas já estão sendo vistas como saturadas, como aconteceu no desfile de Elena Velez no New York Fashion Week de Primavera/Verão 2024 onde as modelos encerraram o evento com uma “briga na lama”, gerando o questionamento de a que ponto as pessoas precisam chegar para chamar a atenção. Essa resposta eu deixo para você me dar.
Por outro lado, vemos que algumas marcas estão investindo em campanhas feitas por Inteligência Artificial, como as bolsas gigantes da Jacquemus invadindo as ruas de Paris, ou até mesmo os frascos de perfume do O Boticário em diversos pontos do Brasil, entrando cada vez mais no mundo da tecnologia como um meio de chegar nesses novos consumidores.
@jacquemus Giant Bambino bags heading to the Opéra Garnier #Jacquemus ♬ son original - Jacquemus
Deu para perceber que nada é por acaso, não é? E é claro que a moda é um dos principais meios que as pessoas buscam para expressar suas emoções internas e externas.
Agora me diz, o que você acha desse surrealismo repaginado?