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Second hand: vamos falar um pouco sobre brechós

Procuro um novo lar. Minha dona não precisa mais de mim e posso te fazer feliz. Faça sua oferta, o frete é grátis e o sorriso garantido. Tenho uma história linda, mas quero escrever uma nova com você.

Calma! Antes que você pense que este é um anúncio de mal gosto de venda de um cachorro, saiba que está redondamente enganado. É de uma camiseta usada veiculado em alguns brechós na internet. A dona? Alice Pires, que resolveu desapegar de tudo e vender em um site especializado. 

Os brechós estão cada vez mais migrando para a internet, embora ainda continuem populares fora dela, principalmente em tempos em que a economia colaborativa cresce proporcionalmente à vontade das pessoas de encontrar produtos bons e baratos, ao mesmo tempo. A regra é desapegar de tudo que não te serve mais, para que outras pessoas possam ser felizes, tanto com a nova peça, quanto com a economia. 

Para Alice, já acostumada a esse tipo de negócio, a experiência é sempre muito boa. “Acredito que em tempos de crise, precisamos nos reinventar e o brasileiro é criativo”, ressalta e acrescenta: “Muitas pessoas estão dando chance para tentar comprar produtos já usados”. No entanto, por ser um modelo em ascensão, ainda existem muitos riscos por parte de vendedor e comprador. Patrik Melero, por exemplo, considera um trabalho incerto. “É uma loucura, não dá para saber até quando os desapegos vão te dar um retorno. Hoje eles cresceram, mas isso pode mudar o tempo todo e nada indica que você sempre terá vendas para que isso se torne o seu trabalho principal”.

Segundo pesquisas recentes de tendências de mercado, as culturas de desapego e reciclagem, assim como a do consumo digital, estão cada vez mais fortes, já que são uma característica da Geração Y somada à onda dos ciclos retrô. Isso tudo cria um ambiente favorável para a proliferação dos brechós e grupos de venda online. Tal crescimento é visto não só na teoria, mas também na prática. O site Enjoei, startup especializada em roupas e artigos de decoração, rendeu 47 milhões de reais em aportes externos, cresceu seis vezes desde sua fundação em 2014 e faturou 200 milhões só nos últimos 12 meses. Mas não é nada perto da hegemonia da OLX, site de vendas, trocas e adoção, que se fundiu ao Bom Negócio em meados de 2014, e juntos movimentam mais de 80 bilhões de reais por ano, 139 milhões de novos anúncios e 25 milhões de transações, com um crescimento médio de 60% ao ano. “As pessoas estão ficando acostumadas a este modelo (de economia colaborativa)”, afirmou o CEO da empresa, Andries Oudshoorn, em entrevista à Exame. “Mas ainda há espaço para crescer”, acrescenta.

E de fato, há muito espaço para crescer. De acordo com dados recentes do Ibope, 91% dos brasileiros têm itens sem uso em suas casas e mais de 84% querem vendê-los de alguma forma. O objetivo principal dessas empresas é desenvolver o hábito do desapego, de forma que isso faça sentido para a família brasileira e para o meio ambiente. No entanto, o caminho para o sucesso ainda é longo. “As vendas na internet são vistas com preconceito, temos uma cultura de querer trabalhos conservadores e com carteira assinada”, explica Alice, quando questionada sobre pessoas que se dedicam exclusivamente aos seus brechós online. “Mas cada vez mais, os empregos estão mudando. Veja as blogueiras que hoje em dia ganham muito dinheiro e fizeram disso uma profissão”, destaca.

Para facilitar, as companhias têm desenvolvido cada vez mais novas ferramentas que garantem conforto e segurança para quem faz da venda na internet sua principal fonte de renda, uma vez que nunca se sabe quem está do outro lado da tela. Mas nem tudo são flores, já que com melhorias, vêm também novas taxas. “Os sites ajudam a vender nossos produtos de forma mais segura, atingindo mais pessoas, no entanto, a porcentagem que fica para o site pode ser um problema”, pondera Patrik. 

Os negócios feitos em grupos ou em sites especializados, estão protegidos pelo Código de Defesa do Consumidor. O anúncio deverá descrever o produto em detalhes, inclusive suas inconsistências, e toda a responsabilidade da venda é por parte do vendedor, mesmo que este seja uma pessoa física. Os sites funcionam apenas como intermediação do pagamento e resolução de possíveis problemas na negociação. Caso necessário, o comprador pode recorrer aos órgãos de defesa do consumidor em caso de qualquer inconsistência.

E para quem vai se aventurar nas compras nos brechós, ficam as dicas dos veteranos:

  • Procure sempre avaliações e a reputação dos vendedores;
  • Nunca pague antecipadamente ou faça a negociação fora do site de intermediação;
  • Verifique o frete da sua encomenda e os cuidados no envio;
  • Cuidado com itens “bons demais para ser verdade”, ou que possuem preço muito abaixo do mercado sem razão aparente;
  • Caso ocorra a entrega em mãos, procure sempre fazê-la em um local público e movimentado;
  • Garanta que a pessoa seja de confiança e tire todas as suas dúvidas antes de finalizar a compra;
  • Pergunte sempre. Tempo de uso, maneira de uso… Extraia o máximo de informação possível do vendedor.

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