“Viajar é a melhor coisa que tem para expandir a cabeça, os pensamentos, as visões…” De Londres para a Itália, dos Estados Unidos a uma pausa em Mónaco para fazer a nossa sessão de fotos. Monte Carlo, com sua atmosfera vibrante e sofisticada, é o cenário perfeito para capturar a essência de uma modelo que encarna a energia e a elegância deste destino. As ruas sofisticadas, os iates luxuosos ancorados no porto e a arquitetura deslumbrante oferecem um pano de fundo ideal para uma produção fotográfica que celebra o estilo e o glamour. Cada clique da câmera do fotógrafo Yaro, conhecido por fotografar celebridades em Mónaco, revela não apenas a beleza da modelo, mas também a alma encantadora dessa cidade.
Nascida no estado do Paraná, no sul do Brasil, Gabi teve sua carreira de modelo incentivada desde cedo por seus pais, que já percebiam seu potencial. Eles a levavam a concursos, onde ela sempre brilhava e conquistava vitórias. Com cada triunfo, sua confiança florescia. Em um momento decisivo, seus pais a levaram a um concurso da renomada agência Elite Model, onde, surpreendentemente, ela não precisou competir – seu destino já estava escrito. Ali, ela deu o primeiro passo para uma trajetória de sucesso. Apenas um mês após assinar o contrato com a agência, Gabi já se preparava para sua primeira viagem internacional, pronta para se apresentar ao mundo e deixar sua marca na indústria da moda.
Estamos falando de um período onde a moda vibrava com uma mistura eclética de tendências, surgimento de novos talentos e a consolidação de grandes nomes da indústria. Dominada por uma forte influência do minimalismo, com designers como Phoebe Philo na Celine liderando o movimento com suas linhas limpas e sofisticadas. Ao mesmo tempo, havia um fascínio pelo maximalismo e pelo drama, exemplificado pelas coleções exuberantes de Alexander McQueen, cujo trágico falecimento, abalou profundamente o mundo da moda. O cenário das supermodelos também estava em plena transformação. Nomes consagrados como Gisele Bündchen, Kate Moss e Naomi Campbell continuavam a reinar, mas uma nova geração de modelos estava começando a ganhar destaque. Além de Celine e McQueen, casas como Balmain, liderada por Christophe Decarnin, e Balenciaga, sob a direção de Nicolas Ghesquière, estavam no auge de sua popularidade. Marc Jacobs na Louis Vuitton e Miuccia Prada na Prada também continuavam a ser forças dominantes, influenciando tendências globais com suas coleções inovadoras. Ou seja, um período de transição e inovação.
Foi nesse cenário dinâmico que Gabi, ainda muito nova, deu seus primeiros passos na indústria da moda. Ela começou a trilhar seu caminho trazendo consigo uma autenticidade e humildade que logo a diferenciariam. Enquanto as tendências evoluíam e novas estrelas surgiam, Gabi se destacava não apenas por sua beleza e talento, mas também por sua personalidade genuína.
"É muito, muito, muito interessante conhecer outras culturas, ver como as pessoas vivem, como as pessoas levam as suas vidas; como elas encaram os problemas da vida diferentemente de como outras pessoas em outras partes do mundo encarariam esse mesmo problema, então é muito legal."
Viajar pelo mundo e conhecer pessoas de diferentes culturas é uma experiência que transforma. Enquanto conversávamos, ela se lembrava de uma das situações mais desafiadoras que viveu, logo no comecinho de sua carreira. “Quando fiz minha primeira viagem para Milão, saindo do calor do verão do Brasil, fui direto para o inverno de Milão, um inverno que eu nunca tinha visto antes. Eu viajei sem falar inglês, italiano, ou qualquer outra língua. E a companhia aérea perdeu minha mala. Cheguei em Milão naquele frio intenso, saí do aeroporto e estava nevando. Não tinha nenhuma blusa comigo, tudo estava na mala: minha touca, luvas, blusa, botas, meias, até o secador de cabelo. Fui para o apartamento das modelos sem conseguir me comunicar em inglês ou em qualquer outra língua.”
No competitivo mundo da moda, a habilidade de falar diversos idiomas pode ser o diferencial que coloca uma modelo à frente, permitindo-lhe se comunicar com diferentes culturas com confiança, estabelecendo uma presença marcante em qualquer mercado global. E Gabi sabia disso. Hoje, ela é fluente em 5 idiomas. “Faz dois anos que eu estou estudando o russo, e essa é a mais difícil, assim, realmente, não conseguiria ter aprendido nada se eu não tivesse estudado muito, todos os dias, duas horas por dia, e agora que eu estou começando a pegar. É muito, muito difícil mesmo.”
Cada encontro com novas tradições, idiomas e modos de vida enriquece a alma e amplia nossos horizontes. Gabi havia feito uma viagem ao Japão um pouco antes da nossa conversa e me contou sobre a cultura, “É tudo muito tradicional, eles são muito perfeccionistas, muito honestos, assim, eu acho que isso é muito bonito de se ver”, aproveitei para perguntar, entre tantas viagens, qual foi a cultura que mais chamou sua atenção. “A cultura que mais me impactou acho que foi a cultura da Ásia. Eles vivem uma vida muito diferente da nossa. E as coisas são muito diferentes. Até na Tailândia, no Japão, as coisas são, assim, outro mundo, sabe? E isso é muito legal, muito interessante, assim, ver o quanto que as coisas não são como a gente vê todo dia, né?”.
Para a sessão de fotos, Gabi veste um vestido vermelho da Mew Mews e um conjunto da Chanel. Quando perguntei sobre as joias, ela me contou: “Na verdade, foram desenhadas por mim. Era um sonho desde pequena. Eu sempre quis fazer joias.” Essa paixão antiga pela criação de peças únicas e sofisticadas reflete seu lado empreendedor, que vem ganhando destaque à medida que Gabi expande seus horizontes além das passarelas e sessões fotográficas. “Quando eu comecei a modelar em São Paulo, antes de eu viajar internacionalmente, eu entrei em um curso de criação de joias feitas à mão. Isso foi uma coisa assim que me acompanhou a vida inteira, sempre estava fazendo alguma coisa com as minhas próprias mãos, criando acessórios… Sempre gostei de enfeitar, de se enfeitar, de enfeitar as coisas, enfeitar as pessoas, fazer com que os acessórios me fizessem me sentir mais poderosa ou mais bonita, mais confiante.”
Há três anos, Gabi começou a frequentar uma loja de joias onde encomendava brincos e colares baseados em suas próprias criações. Ela desenhava suas ideias no papel e pedia aos artesãos para criarem as peças, até que um dia, os proprietários da loja a abordaram com uma proposta. Impressionados com seus designs, perguntaram se ela gostaria de colaborar com eles, desenhando uma linha inteira de joias que seria vendida em parceria. Gabi aceitou de imediato, dando início à sua primeira coleção de joias com a marca Fiori, alta joalheria de Dubai. “Eu amei muito fazer isso, foi muito legal, muito gratificante”. O resultado foi tão bom que levou à criação de uma segunda coleção, que também foi muito bem recebida. Motivada por essa paixão e pelo sucesso das colaborações, Gabi decidiu lançar sua própria marca de joias, com planos de estreia previstos para dezembro deste ano.
“Acho que a moda tem muito a ver com a identidade, uma forma de expressão. Assim, eu sinto que eu mudo o jeito que eu me visto conforme os lugares que eu estou. Tipo, se eu tô em Londres, eu me visto de uma maneira. Se eu vou em tal lugar, eu me visto de outra maneira, eu gosto de ser bem eclética e me adaptar assim às situações. Gosto de me sentir, acho que a moda faz você se sentir, incluída no espaço. Depende do jeito que você se adapta ao espaço, você se sente incluída, você se sente parte daquilo, isso é muito legal.”
Esse contraste entre o glamour da moda e a humildade e autenticidade de Gabi ilustra como ela se tornou uma presença única na indústria, capaz de navegar pelo mundo frenético da moda enquanto mantinha sua essência intacta. “Eu tento ser gentil comigo mesmo e com meu corpo. Mas, é claro que com esse trabalho, a gente se sente muito insegura por ser julgada o tempo inteiro. Eu acho que desde que você leia bons livros, faça meditação e tipo de coisas que ajudem na sua autoestima, eu acho que não tem erro.”
E quando não tivermos um dia tão bom? “Quando eu tô me sentindo um pouco mal, eu gosto de tomar um banho, lavar o cabelo, passar um creme, me sentir limpinha, clean, com o rosto clean, sem maquiagem. Colocar uma roupa bem confortável e ficar perto das pessoas que eu amo. Eu acho que a melhor maneira de melhorar a saúde mental das pessoas é sempre estar ensinando elas a se amarem, a se respeitarem, a se cuidarem, a não se compararem com outras pessoas. Acho que isso é muito importante. E sempre acreditar no seu potencial”.
“Para os novos modelos eu diria que meu conselho é estudar coisas que goste, ao mesmo tempo que trabalhe de modelo, porque às vezes a carreira pode não entregar tudo aquilo que a gente quer, pode trazer alguma frustração, pode trazer algum tipo de frustração. Traz esse tipo de ansiedade até, então, acho que o mais importante para quem quer começar a ser modelo é nunca deixar de lado os hobbies que eles têm. Nunca deixar de gostar de outras coisas, porque isso vai te ajudar muito no momento que você estiver ansiosa, que estiver esperando a resposta de um trabalho, que você tiver em dúvida sobre o futuro. Essas outras coisas paralelas que você estudar vai te trazer um sentido assim na vida, sabe? Então, acho que isso é o mais importante: nunca deixar de estudar e também nunca se afastar da família, sempre ter um contato muito bom com a família. Um amor, uma conversa, um carinho, porque a família é o seu suporte eles vão te ajudar do começo ao fim.”
Depois, Gabi já embarca para o Polo Norte, onde uma nova história começa.
Gabi veste Mew Mews (vestido) e Chanel (conjunto)
Foto por Yaro e produção D’Idées Magazine