Katy Perry

Por que o comeback da Katy Perry não agradou parte do público?

Artigo de opinião

Katy Perry retornou ao mundo da música nesta última quinta-feira (18 de julho) com o seu novo single “Woman’s World” e anunciou o seu novo álbum de estúdio, o “143”, que marca o seu 6º álbum de estúdio para o dia 20 de setembro, o mesmo dia em que ela se apresentará no Rock In Rio no Brasil. O seu último álbum, “Smile”, foi lançado em 2020 e contou com os hits “Never Really Over” e “Harleys in Hawaii”.

Após um hiato de 4 anos sem lançar novo material, o público estava muito ansioso para o que poderia vir. Com o lançamento de “Chained To The Rhythm” em 2017, que foi o primeiro single do seu álbum “Witness”, ela mostrou amadurecimento. A música faz uma crítica às bolhas sociais nas quais vivemos presos e confortáveis, sem se preocupar em querer sair delas. Nessa mesma época, ela fez muita campanha política contra Donald Trump, o que fez com que sua imagem nos Estados Unidos ficasse desgastada. Já com o seu álbum “Smile”, ela estava curtindo a fase da gravidez, algo que fica ainda mais notório com a música “Daisies”, que ela fez para a sua filha.

Para essa nova fase da sua carreira, parte do público que consome música pop esperava um amadurecimento das suas ideias e mensagens, tanto sonoramente quanto liricamente, principalmente pelo tempo afastada da música. Nesses últimos 4 anos, ela esteve como jurada do reality show de música “American Idol” e alguns vídeos virais surgiram dela presente na bancada, principalmente aliados às pautas sociais, como a política de controle de armamento nos Estados Unidos e a comunidade LGBTQIA+.

Katy Perry
Foto: Instagram

Katy Perry movimentou a rede social “X”, o antigo Twitter, ao anunciar o seu novo single “Woman’s World”. Ela movimentou a rede social por anunciar um single novo após alguns anos sem lançamento de material inédito, o que fez com que os fãs ficassem animados. A rede também foi movimentada pelo público ao saber que um dos principais produtores musicais envolvidos, não só nessa música mas também no seu novo álbum, é Dr. Luke, com o qual ela nao colabora desde o “PRISM”. O produtor foi processado pela cantora Kesha, que o acusou de ter abusado dela sexualmente, fisicamente, verbalmente e emocionalmente, e queria que o seu contrato com ele e o seu selo na Sony Music, Kemosabe Records, fosse encerrado. Nesse julgamento eles conseguiram um acordo e a Kesha conseguiu a sua liberdade.

No passado, Kesha e Katy eram amigas, mas no julgamento, enquanto testemunha, Perry foi totalmente imparcial, o que fez com que Kesha não tivesse uma testemunha próxima a seu favor. Além de Kesha, alguns artistas que trabalharam com Luke alegaram desconforto ao trabalhar com ele, pois ele não dava crédito aos artistas por suas composições e produções. Artistas como Kelly Clarkson, Doja Cat, Avril Lavigne e Bebe Rexha relataram experiências pessoais. Luke e Perry são parceiros de longa data no mundo da música, trabalhando juntos desde 2008 em grandes hits da cantora, como “Hot n Cold” e “I Kissed a Girl”.

O que torna esse retorno da Katy Perry com “Woman’s World” contraditório é o fato de ela escolher trabalhar com um produtor que foi processado por abuso sexual em uma música sobre empoderamento feminino. Além disso, a música conta com 6 compositores, sendo 4 homens e apenas 2 mulheres, e os produtores musicais são apenas homens. Entendo que, com esse material, Perry queria lançar um álbum para seus fãs com um objetivo muito claro ligado à sua era “Teenage Dream”, na qual ela também trabalhou com Luke, não diretamente para a grande indústria fonográfica. Ela é incrível e tem uma ótima relação com os “Katy Cats”, nome carinhoso pelo qual chama seus fãs.

Durante o processo, Dr. Luke não ficou sem trabalhar; ele criou um pseudônimo e lançou várias músicas desde então. Alguns lançamentos foram feitos com seu próprio nome, mas por que, com a cantora Katy Perry, ele furou a bolha e gerou sobre ela um hate gratuito na grande mídia e nas redes sociais? Analisando socialmente, a sociedade atual em 2024 está politicamente informada e conectada com a internet, e as pautas sociais estão mais difusas na boca do povo. Todos têm uma opinião muito clara sobre o feminismo e as pautas sociais. O que as redes sociais têm são muita teoria e pouca prática; muitos usuários criticam as escolhas de Perry, mas não olham para suas próprias escolhas pessoais e, em algum momento, fizeram escolhas semelhantes às da cantora.

O que eu vejo, é claro, é que a experiência da Perry com Luke foi única e diferente da que a cantora Kesha teve com ele. Um abusador não abusa de todas as pessoas com as quais se relaciona, então acredito que Katy Perry leva em consideração a sua experiência e o seu ponto de vista como a sua verdade. O que eu critico aqui neste artigo é o fato de a cantora, em 2017, cantar sobre furar a bolha e ver para além dela, mas escolher ficar dentro da sua própria bolha. Para mim, isso não a faz uma má pessoa, mas a torna uma pessoa com escolhas questionáveis. Não há como anular uma verdade com a outra, porém também não há como ignorar que a escolha de trabalhar com Dr. Luke no seu álbum foi uma péssima decisão para falar sobre feminismo. Além de ser homem, ele abusou de uma mulher.

A indústria da música ao longo dos anos mudou e lançou vários outros produtores, incluindo produtoras musicais femininas, mas Perry não furou a bolha e ficou presa no ritmo da indústria da música pop em 2010. A música é ótima, não há como negar que as produções do Dr. Luke sejam boas; inclusive nesta, ele entregou um bom chiclete como material, mas as escolhas dela para esse trabalho não são de bom tom. Além disso, o clipe fez uma crítica nada clara sobre a teoria do “feminismo liberal”, o que deixa subjetivas as interpretações sobre qual era a ideia da sua mensagem, fazendo com que as pessoas não entendam de maneira clara as ideias da cantora. 

O amadurecimento na música da cantora Katy Perry tem a ver com a difusão das suas ideias e que Perry sempre usará sua veia cômica para falar sobre o seu ponto de vista, ela segue sendo fiel ao que acredita e não ao que é dito na mídia. Mas não podemos esquecer como para um homem em qualquer indústria, seja musical ou não, saírem impunes dos seus crimes, Dr Luke, não só continua trabalhando como ainda conseguiu um outro selo intitulado “Amigo”, dentro da Republic Records, agora se fosse uma mulher ela ainda teria uma carreira? Afinal, quantas mulheres tiveram suas carreiras destruídas por apenas explorarem a sua sexualidade?

Logo após o lançamento do vídeo, ela postou um vídeo nas suas redes sociais explicando o conceito do clipe, o que fez muito sentido depois. O clipe está ótimo, está camp e nostálgico ao pop de 2010, e ela nos leva para um lugar de conforto durante os quase 3 minutos assistindo a ele, mas nos faz questionar: “Por que fazemos certas escolhas que nos fazem ficar presos na nossa bolha de maneira confortável?” Afinal, conseguiremos de fato seguir as teorias políticas sociais em nossas vidas reais? Somos capazes de seguir a nossa vida, tomar as nossas decisões e sermos politicamente corretos? Vamos refletir junto com a cantora se, de fato, o mundo é um mundo para as mulheres e se somos capazes de além de militar nas redes sociais, praticar o que de fato acreditamos. Afinal, o mundo é de fato das mulheres ou dos homens? 

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