O coletivo Amaronai, cujo nome significa “filhas de Amaro” – em homenagem à primeira mulher Baniwa, uma xamã que originou esta etnia -, busca trazer dignidade menstrual através da produção de absorventes de pano.
Origem e Propósito
Fundado em 2019, o coletivo surgiu de um encontro entre mulheres indígenas e não indígenas, durante o qual as participantes Baniwa foram apresentadas aos absorventes de pano. Encantadas com a novidade, as mulheres começaram a desenvolver estratégias para garantir o acesso universal a essa tecnologia sustentável. Amaronai promove soluções menstruais ecológicas que, além de melhorar a higiene menstrual das mulheres indígenas, contribuem para a preservação ambiental e a geração de renda.
Francy Baniwa, líder do coletivo Amaronai, destaca a importância da iniciativa: “Trouxemos nosso conhecimento ancestral aliado à tecnologia do tecido. A mulher se sente segura, além de proteger o próprio corpo. O impacto é enorme, teremos menos lixo, menos exposição espiritual e mais proteção do corpo feminino.”
Apoio e Sustentabilidade
O projeto conta com um programa de doações, através do qual qualquer pessoa pode contribuir financeiramente para a produção e distribuição dos absorventes. As doações podem ser realizadas diretamente no site oficial do coletivo Amaronai (https://amaronai.org/). Este modelo de financiamento colaborativo assegura que mulheres que não têm condições de pagar pelos absorventes possam recebê-los gratuitamente.
Capacitação e Produção
A produção dos absorventes de pano é fruto de uma capacitação realizada em parceria com a Korui, empresa especializada em soluções menstruais sustentáveis. Costureiras do Alto Rio Negro foram treinadas para confeccionar os absorventes, promovendo a autonomia e geração de renda para as mulheres da região.
Mitos e Cultura
A importância da menstruação na cultura Baniwa é ressaltada através de seus mitos e tradições. Segundo a cosmologia Baniwa, a história conta que Amaro, (a primeira mulher do povo, que era uma mulher xamã), viveu no período em que elas eram donas dos animais sagrados – ou seja, eram as xamãs de suas comunidades. Naquela época, as mulheres tinham vagina, mas não menstruavam. A forma que o demiurgo Nãpirikoli encontrou de roubar o conhecimento que pertencia a elas, foi as fazendo sangrar, jogando uma fruta de Caruru nessas mulheres. Assim, o segredo delas passou a estar contido na menstruação.
Francy Baniwa, uma das líderes do projeto, explica: “Caruru nasce na natureza por si só, ela não é cultivada, mas é nativa. Comemos as folhas, mas as frutas são venenosas. Quando a fruta é amassada, ela sangra. O líquido dela é sangue puro. O mito diz que a única forma de paralisar Amaro e outras mulheres foi trazendo a menstruação pelo Caruru. Por isso, é tão importante para as indígenas terem controle sobre o destino do seu sangue menstrual”.
O coletivo Amaronai, com seu compromisso com a dignidade menstrual, sustentabilidade e valorização da cultura indígena, continua a inspirar mudanças significativas na vida das mulheres do Alto Rio Negro. Para mais informações e para apoiar a iniciativa, visite o site oficial: https://amaronai.org/.