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A cultura invisível do Brasil

O Brasil é uma referência mundial em termos de diversidade cultural. No entanto, a distribuição desigual dessa riqueza cultural revela uma realidade preocupante.

Escrito por Patrik Melero

 

Segundo o Sistema de Informações e Indicadores Culturais (SIIC) do IBGE, cerca de um terço da população brasileira vive em cidades sem nenhum museu, e apenas 57% têm acesso a salas de cinema em seu próprio município. Esses dados, coletados entre 2011 e 2022, destacam a profunda desigualdade de acesso à cultura no Brasil.

Essa disparidade é especialmente visível quando comparamos diferentes regiões do país. Em grandes centros urbanos, como São Paulo, a oferta cultural é vasta e acessível, com inúmeras opções de museus, teatros, cinemas e outros espaços culturais. Em contraste, nas regiões Norte e Nordeste, a maioria da população precisa se deslocar por mais de uma hora para acessar um equipamento cultural, evidenciando a exclusão de grandes parcelas da população.

A cultura (ainda) é restrita!

O acesso restrito à cultura não é apenas uma questão de infraestrutura, mas também de representação e interesse. Muitas vezes, os eventos e espaços culturais não refletem a diversidade e os interesses da população local, o que desestimula a participação. Historicamente, práticas como a exigência de trajes finos para a entrada em teatros criaram barreiras socioeconômicas que excluíram muitas pessoas. Embora algumas dessas barreiras tenham sido removidas, a percepção de que certos espaços culturais não são acolhedores ou acessíveis continua.

Além disso, o custo dos eventos culturais pagos é um fator limitante significativo. Para uma família brasileira que vive com um salário mínimo, o preço de um ingresso de cinema, show ou peça teatral pode representar uma parte expressiva do orçamento mensal, tornando esses eventos inacessíveis para muitos. Esse cenário é um reflexo claro da desigualdade econômica que impacta diretamente o acesso à cultura.

 

O ‘Efeito Madonna’ precisa continuar…

Algumas iniciativas, como o show gratuito da Madonna no Rio de Janeiro, patrocinado por instituições privadas, mostram a possibilidade de democratizar o acesso à cultura. Esse evento permitiu que muitas pessoas tivessem acesso a um espetáculo de alto nível, algo que, de outra forma, seria financeiramente inviável para a maioria. Além de beneficiar o turismo local, esse tipo de iniciativa demonstra que políticas culturais inclusivas são viáveis e necessárias.

O sucesso desse evento levantou uma questão importante: se os eventos culturais fossem mais acessíveis, será que não atrairíamos um público maior e mais diverso?

Os espaços digitais também têm desempenhado um papel crucial na democratização do acesso à cultura, principalmente após o período de pandemia. Plataformas como o Sesc Digital, Itaú Cultural e a BibliOn oferecem acesso a uma vasta gama de conteúdos culturais, como filmes, música, livros e exposições virtuais, muitas vezes de forma gratuita ou a baixo custo.

A cultura é um direito universal e uma necessidade para o desenvolvimento social e econômico de uma nação. Políticas culturais inclusivas e projetos comunitários são passos fundamentais para garantir que a riqueza cultural do Brasil seja desfrutada por toda a população, em cada canto do nosso território. Além disso, o apoio a artistas e produtores culturais, por meio de editais e financiamentos coletivos, é essencial para a manutenção de uma cena cultural mais forte, viva e pulsante.

Investir em cultura é investir no futuro do Brasil. A pluralidade cultural do nosso país é uma das suas maiores riquezas, e precisamos assegurar que todos os brasileiros possam usufruí-la.

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