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Câncer de Mama – Saúde e Bem-estar no caminho da cura

Este não é um Outubro qualquer, é o Outubro da Esperança!

Neste Outubro vamos falar de prevenção ao Câncer de Mama? Claro que vamos, afinal, essa é uma campanha de muito sucesso que colocou a saúde da mulher no mapa das prioridades do mundo, mas vamos além disso. 

Nós vamos falar de esperança, vamos celebrar a vida, a cura, as possibilidades, as descobertas que tem feito com que as mulheres e homens (apenas 1% dos casos), possam fazer planos e acreditar que viverão muito e muito bem apesar do diagnóstico.

Hoje 98% dos casos descobertos precocemente são curados, e, ano após ano, as pesquisas e a dedicação de médicos e cientistas têm feito com que estejamos mais próximos da cura e de tratamentos mais eficazes e menos tóxicos. 

Se realmente não existisse esperança, por que tantos médicos se dedicariam a se especializar e cuidar das pessoas que estão doentes? Porque elas estão doentes e não são doentes. 

Há um caminho a ser percorrido e ele pode ser feito de mãos dadas com pessoas que têm o mesmo objetivo: o objetivo de superação. Há protocolos a serem seguidos, mas há uma infinidade de descobertas sendo testadas e avaliadas para que haja cada dia mais cura. E sabe o que há também? Há acolhimento!

E para informar, inspirar, incentivar e até emocionar, trouxemos o Dr. Daniel Cubero, referência em atendimento humanizado e integrativo. Depois de ler essa entrevista você vai querer se cuidar cada dia mais. 

O Dr. Daniel Cubero é um jovem médico, graduado pela PUC-SP de Sorocaba em 1999, com residência médica no grande Hospital do Servidor Público de São Paulo, de onde logo se encaminhou para a área Oncológica com residência médica também no A. C. Camargo, hospital renomado e referência em tratamento Oncológico. Hoje, ele é Diretor do Centro de Oncologia CEON+, com 4 unidades no ABC e uma unidade em São Paulo, e 40 anos de excelência em atendimento oncológico, também é Professor Assistente e Coordenador do Programa de Residência da Disciplina de Oncologia e Hematologia da FMABC, Diretor Executivo do Centro de Estudos e Pesquisas em Hematologia e Oncologia (CEPHO), Chefe do Setor de Oncologia – CACON – Hospital de Ensino Anchieta/FM ABC e Administrador e Proprietário da Fazenda Vargem Grande – Fazenda dedicada à produção de madeiras nobres (teca e guanandi) e plantas ornamentais.

Além disso, o Dr. Daniel coleciona muitos aprendizados com Mestrados, Doutorados, MBAs, Especializações e diversos estudos e formações complementares dentro e fora do Brasil por grandes universidades e laboratórios médicos. 

Através dessas experiências, Dr. Daniel desenvolveu um modo de abordagem integrativo não só para o bem-estar dos pacientes, mas também para as equipes envolvidas nos tratamentos oncológicos, e isso tem sido perpetuado através da sua vida docente, no dia a dia em sua clínica, e nos hospitais que contam com sua colaboração. 

Como filho de oncologista, ele assistiu seu pai atendendo integralmente à moda antiga, onde o tratamento inteiro era feito por um médico que já fazia a medicina integrativa antes de ser divulgada como conhecemos hoje. Ele trouxe na sua trajetória o exemplo de dentro de casa, pois o paciente acabava virando parte de sua família no momento em que dividia a presença do pai com as pessoas que precisavam dele por perto para se sentirem seguras e bem tratadas. Certamente a paixão de seu pai pela medicina e pelo cuidar foi a base para que hoje ele seja reconhecido como além de um excelente profissional, uma excelente pessoa que trata seus pacientes como seres únicos sem que eles se sintam mais um usando algo generalizado, mas fazendo se sentirem exclusivos com seu atendimento humanizado e dedicado.

Foi através de suas experiências pessoais e profissionais que incorporou no seu estilo de atendimento o tratamento humanizado e a personalização em busca da cura e da qualidade de vida do paciente para além do tumor, mas o paciente como um ser inteiro, com todo o corpo precisando ser cuidado e preservado para não sucumbir aos sentimentos, dúvidas, medicamentos com seus efeitos colaterais, ao ambiente hospitalar e/ou clínico  que lhe é oferecido, mas sim os assessorando junto de equipe multidisciplinar como psicólogos, psiquiatras, nutricionistas, nutrólogos, especialistas, cirurgiões, farmacêuticos, radiologistas, entre outros. Além disso, a clínica que dirige tem um programa de prevenção e rastreamento que é oferecido para empresas e seus familiares para incentivar o autocuidado e evitar o adoecimento desses colaboradores.

Com enorme admiração, gratidão e prazer que temos a satisfação de dividir os ensinamentos dessa incrível entrevista com o Dr. Daniel Cubero. Aproveitem!


Quero iniciar nossa entrevista de forma esperançosa e positiva. Hoje, qual o percentual de cura de câncer de mama em relação ao que tínhamos nos anos 80 e a quais fatores o Dr. atribui essa mudança? O Dr. concorda comigo que há muito tempo um diagnóstico de câncer não é uma sentença de morte?

De fato, o câncer de mama não é uma sentença de morte. Podemos dizer sem medo de errar que a grande maioria das mulheres ficará curada do câncer de mama. Existem muitos recursos, a medicina avançou bastante nos últimos anos, mas existe uma máxima que prevalece, que é a de que quanto mais cedo o câncer for diagnosticado, maiores serão as chances de cura.

As campanhas de conscientização incentivando o autoexame e a mamografia são responsáveis por tantas mulheres descobrirem a doença no início e aumentarem as chances de cura?

As campanhas de conscientização, em especial o Outubro Rosa, sem dúvida nenhuma são muito importantes para que as mulheres se lembrem de fazerem os programas de prevenção. Uma coisa tem que ser dita, que é, ponto número 1, é importante que as pessoas entendam que a campanha serve para você se conscientizar e não para que você faça os exames naquele mês, pois se todas as mulheres do planeta resolverem fazer os exames da mama em Outubro, não haverá vagas para todo mundo. Então o correto é que elas distribuam esses exames de prevenção ao longo do ano. Eu costumo orientar as minhas pacientes para que façam na data ou no mês de seu aniversário, para que não se esqueçam de fazer todo ano e assim não sobrecarregará o sistema devido a todo mundo fazer os exames em Outubro. Sem dúvida essas campanhas, em especial a Outubro Rosa, levantaram essa bandeira importante e fizeram com que muitas mulheres lembrassem das Campanhas de prevenção. 

É importante fazer um adendo, prevenção de câncer de mama é mamografia, diagnóstico precoce por mamografia. Infelizmente os autoexames são muito tardios na detecção do câncer. Uma mulher para perceber um câncer em si própria apalpando a mama já seria um câncer muito grande a ponto de mudar muito pouco as chances de ela vir a ficar curada. Então para que possamos fazer a diferença nas mulheres, nós precisamos fazer o diagnóstico o mais cedo possível, antes mesmo da lesão ser palpável, quando aparece um pequeno sinal na mamografia, por exemplo, e você consegue detectar a doença com menos de 1 cm. Aí sim você fez toda a diferença aumentando expressivamente as chances de cura. 

Em contrapartida ao movimento de se autoexaminar, hoje vemos mulheres que têm tantas atribuições em relação a família, filhos, cônjuges, trabalho, casa, dividir ou ser a principal renda da casa, além de todas as preocupações que lhe são inerentes, como Dr. analisa o quanto essa rotina impacta no desenvolvimento da doença e se isso é um fator que aumenta a probabilidade em mulheres que têm histórico familiar da doença?

De fato, as pessoas são diferentes em muitos aspectos e podemos dizer que cada pessoa é única, no entanto, certos princípios, tanto na parte de prevenção quanto na parte de tratamento, são comuns a todo mundo. Então o que a gente faz é seguir uma linha mestre de recomendações e a gente ajusta e adapta para a situação que aquela pessoa está vivenciando naquele momento. Então, a boa prática médica justamente se faz em você adequar o que é o ideal e o que é possível na realidade daquele que está na sua frente. É isso que o médico faz, do contrário não precisaríamos de médico e todos simplesmente seguiram uma recomendação escrita, por exemplo.

 O Dr. poderia nos contar se acredita ou tem relatos de que fatores externos como luto, separação, perda de trabalho, traumas recentes de violência ou perda de padrão de vida, entre outras situações sejam desencadeadoras da doença? Pergunto isso por já ter visto algumas pessoas adoecerem após passarem esse tipo de situação.
 

Bem, tratando especificamente de câncer, não me referindo a outras patologias de ordem psiquiátrica ou cardio vasculares, eu estou falando de câncer, não existe nenhuma comprovação que tristeza, luto, coisas relacionadas a psique sejam as causas do câncer. E eu exemplifico isso com algo bastante prático. Se você pega populações inteiras de países que sofreram tragédias gigantes com as que aconteceram, por exemplo, no Haiti onde as pessoas perderam famílias, foram devastadas, ou num cenário pós-guerra, você não tem uma epidemia de câncer na sequência por consequência do que essas pessoas sofreram, então não existe essa relação. Por outro lado, isso é muito importante, pessoas que enfrentam problemas psicológicos, depressões, lutos e doenças correlacionadas a esses sintomas, elas têm uma dificuldade enorme de seguirem os tratamentos da forma adequada, de se ajudarem. Então eu posso dizer com toda certeza que um paciente estar bem e com a saúde psíquica boa isso vai ter um impacto direto no desfecho do tratamento, mas não que isso seja a causa do câncer.

Apesar de toda a informação, campanhas de prevenção, tecnologias e tratamentos disponíveis, hoje o diagnóstico de câncer de mama ainda é um grande susto e vem cheio de medo e incerteza. Como o Dr. acredita que seja o modo ideal de dar essa notícia para as pacientes e familiares? Há alguma abordagem específica?

É importante que a gente entenda que não há uma maneira ideal, cada pessoa reage de um jeito, mas há certos princípios que precisamos adotar. O primeiro é que a gente não deve dizer coisas ou falar coisas para o paciente que ele não quer saber, então a gente respeita o direito da pessoa não querer saber de detalhes. Então a gente vai ao limite que a paciente demanda. Então você deve responder o que foi perguntado e não deve dizer mais do que não foi perguntado. O segundo ponto importante é que a gente pode omitir muitas coisas, mas a gente não pode mentir, mentir jamais. Então, seguindo essas duas regras, as coisas caminham direitinho. Mas o fato é que as conversas difíceis, as explicações detalhadas, elas precisam ser dadas por um médico, porque o médico pode dizer do problema, mas na sequência ele pode falar das soluções e tudo fica mais simples. Para um familiar que não está acostumado a dar esse tipo de notícia e ter conversas dessa natureza, certamente ele não fará da melhor forma. Então é melhor deixar para que o médico tenha essa conversa durante as consultas, E lembrando uma coisa importante, nem tudo precisa ser dito numa consulta só, as pessoas precisam de tempo para entender o que está acontecendo e para se sentirem confortáveis para fazerem as próximas perguntas. Uma boa relação entre o médico paciente constrói isso, dá ao paciente essa liberdade e essa segurança, e o paciente, aos poucos, vai sanando suas dúvidas. 

Após o conhecimento do diagnóstico, como o Dr. define qual o tipo de tratamento é o mais indicado para essa paciente de forma individualizada em meio a tantas opções e inovações que temos hoje, como é esse processo de escolher o que será mais eficaz para aquele tumor, naquele grau para aquela pessoa? 

Ao contrário do que as pessoas pensam, os tumores não são todos iguais. Então quando se diz que uma mulher tem um câncer de mama, isso é um nome geral para um grupo grande de doenças que se comportam de forma diferente, e no material da biópsia são feitas análises complementares como imunohistoquímica ou até mesmo avaliação de certas mutações ou amplificações dentro do gene das células tumorais, são exames acessíveis hoje. Baseado nessa diferença entre os tumores que a gente escolhe os tratamentos. Então a verdade é que todo mundo começa bem parecido, com programa de prevenção, faz uma biópsia, uma vez que a biópsia é feita, dali para frente o tratamento é totalmente customizado de acordo com o subtipo de doença que a gente está diante, e se tem muitos subtipos.

Cada paciente é um mundo particular, com histórias de vida diferentes, rede de apoio diferente quando a tem, hábitos diferentes e reações diferentes em relação a doença e ao tratamento. Como o Dr. faz para que o tratamento seja personalizado e individualizado a fim de que seja aderido mais facilmente para cada paciente?

De fato, além das doenças, os pacientes também são diferentes. Então a gente vai precisar personalizar o tratamento de acordo com a pessoa que está diante de nós. É bastante diferente eu planejar todo um tratamento para uma moça de 40 anos e saudável ou de uma senhora de 85 anos com comorbidades. Então temos que ponderar o peso da mão e escolher os tratamentos adequados para cada uma delas. Sem falar nas opções pessoais, eventualmente eu posso ter escolhas com base religiosa, por exemplo, Testemunhas de Jeová não aceitam receber transfusões, então eu tenho que tomar cuidado com que tipo de tratamento irá ser feito para não colocá-los em risco ou levá-los a uma situação que a transfusão seria necessária. Ou o indivíduo pode ter escolhas, por exemplo, eu tive uma paciente que não queria que o cabelo dela caísse e abri mão de chances de tratamento inclusive por conta disso, não aceitar tratamentos que a levassem a alopecia, queda de cabelo. Então isso faz com que os universos de cada paciente, se já não fosse tão complicado a gente imaginar que tem vários subtipos de doenças diferentes, faz de cada pessoa única. E então a combinação desses fatores faz com que cada paciente precise ter o seu tratamento de forma absolutamente personalizada

Qual seria o seu conselho para as mulheres que querem evitar a doença e quais as mudanças de hábitos no dia a dia que podem nos ajudar?

 A verdade é que só uma parte dos fatores de risco podem ser controlados pela mulher, os outros, ela não escolhe, então por exemplo, mulheres que começam a menstruar muito cedo e param de menstruar muito tarde, tiveram muito ciclos menstruais e estão mais suscetíveis a doença, e isso a mulher não escolhe, é a natureza dela. Outros podem ser evitados, o cigarro, com certeza pode ser evitado. A obesidade e sedentarismo são coisas que podem aumentar os riscos para câncer de mama e então a gente aconselha hábitos saudáveis, atividades femininas. Mas mesmo fazendo tudo certo, as mulheres não estão isentas do risco por serem mulheres e os hormônios femininos normais que aumentam o risco da mulher ter câncer de mama. Então, invariavelmente elas vão precisar se atentar aos programas de prevenção quando atingirem uma certa idade.

O Dr. já falou em alguns vídeos sobre a importância da segunda e até terceira opinião para quem recebe o diagnóstico e assim poderem definir uma linha de tratamento mais efetiva. Qual seria o seu conselho para as mulheres que não têm como fazer o tratamento particular e dependem do SUS?

Em relação ao SUS, não necessariamente alguém que é tratado no SUS terá um tratamento de menor qualidade ou será atendido por uma pessoa menos qualificada. Os serviços de oncologia ligados aos SUS, muitos deles, e eu diria que a maioria deles, tem profissionais altamente capacitados, então nesse sentido eu acho que não há uma necessidade de uma preocupação maior. Sobre a segunda opinião, ela é válida tanto no SUS quanto no convênio, toda vez que um paciente está inseguro. Se tem dúvida sobre uma conduta, é aí prudente pedir uma segunda opinião, e esse segunda opinião no SUS é um pouco mais difícil porque o indivíduo não tem essa liberdade de conseguir uma segunda opinião, mas eventualmente ele pode investir numa consulta e pagar uma única vez para ver se o tratamento dele está adequado, se tudo que tem que ser feito está realmente sendo feito, eu acho que isso é algo saudável que as pessoas deveriam ter como hábito, porque ficam mais tranquilas e caso haja uma oportunidade de melhora, um tratamento melhor, alguém vindo com outro olhar e vendo outras soluções é sempre bem-vindo, boas ideias e bons caminhos para que se encontre as melhores soluções para o paciente.

Poderia nos contar quais são as novidades nos tratamentos atuais, além do que já conhecemos, há algo mais natural ou alternativo que tem sido usado como auxílio e apoio para pacientes oncológicos? Vi que existe um trabalho com o Guaraná (Paullinia Cupana) e o Extrato Seco de Guaraná? Há mais alguma coisa nesse âmbito?

Existem hoje inúmeras inovações em tratamento de câncer de mama e tratamentos altamente sofisticados, por exemplo, drogas que ativam o sistema imunológico do paciente para que o próprio sistema imunológico combata o câncer. Isso pode ser usado em certos tipos de câncer de mama, não todos. Agora, em relação a produtos naturais alternativos, eu diria que eles são bem-vindos como coadjuvantes, porque o nível de sofisticação dos remédios mais modernos para tratamento de câncer de mama, o nível de efeito do que eles trazem, as chances que eles trazem para os pacientes é incomparável com qualquer produto natural. Então a gente reserva produtos naturais para um melhor suporte, então há remédios que melhoram o enjoo, há estudos, por exemplo com gengibre, ou para fadiga algumas coisas relacionadas ao guaraná e outros estimulantes que vem como um coadjuvante para que a paciente se sinta melhor durante o tratamento.

Eu li que já você já falava de Burnout em 2012-2013 e já se preocupava com quem trabalha na mesma área que você, com pacientes oncológicos. Eu queria perguntar como faz para conseguir viver esse lindo propósito sem ser totalmente absorvido pelo estresse e medo que ainda envolve a doença em cada vez que informa um diagnóstico, e ainda assim, passar a confiança, apoio e positividade para incentivar esse paciente a se cuidar?

A verdade é que os profissionais que lidam com pacientes oncológicos, aliás não só pacientes oncológicos, mas pacientes com doenças graves, doenças difíceis, eles estão sim mais suscetível ao desenvolvimento de alguns transtornos como por exemplo uma Síndrome de Burnout, mas eu entendo que o que motiva as pessoas a lidarem com situações assim, é a sensação de poder ajudar o outro, é você se sentir recompensado com o olhar, com uma palavra de gratidão, ou simplesmente você ver a pessoa que está na sua frente melhorando. Eu acho que isso acaba sendo muito mais gratificante, muito mais forte do que qualquer peso de lidar com situações difíceis. Então eu acho que essa troca acontece e ela é muito enriquecedora, e claro, todas as pessoas que lidam com pacientes graves ou rotinas estressantes acabam tendo alguns derivativos, algumas válvulas de escape. Alguns gostam de viajar, outros gostam de práticas de esportes, alguma coisa cultural, uma leitura, enfim, cada profissional vai encontrar os seus mecanismos para poder descansar daquela rotina que, de fato, é um pouco extenuante.

 Como lidar com tantos desafios e ao mesmo tempo com tanta gratidão de seus pacientes, familiares deles, alunos e colaboradores? Isso é um incentivo e te fortalece?

 Eu acho que essa interação gostosa, esse retorno que a gente recebe dos pacientes, dos familiares, do entorno, e de toda a equipe, do mesmo jeito que a gente sente gratidão dos outros, a gente agradece aos outros que nos ajudam da equipe também. Eu acho que essa troca é o que faz “fazer sentido”, é o que faz com que a gente tenha esse gostinho da gente sair de casa cedo com vontade de estar lá e voltar melhor do que a gente foi. Eu acho que essa é a ideia de tudo.

Qual o conselho que daria para as mulheres que acabam evitando de ir ao médico e de fazer exames por medo de ter um resultado que demonstra que tem câncer?

 Eu acho que o maior conselho que eu dou para alguém que tem receio, é que ela não precisa passar esse medo sozinha, se ela pensar no médico como um aliado, alguém que pode apoiá-la, ela pode entender que ela não precisa sofrer com esse medo, que ela pode contar com alguém que é capacitado, que vai apoiá-la e que vai poder dizer para ela o que ela tem ou o que ela não tem. Quando ela sair do médico e o médico tiver visto todos os exames e ele disser “Olha, está tudo bem com seus exames”, ela pode ficar despreocupada e ela vai só lembrar de voltar ali um ano depois sabendo que é seguro, que ela vai ficar bem, que ela não precisa se preocupar com isso, ela não precisa passar e nem carregar com ela esse medo. Então eu acho que essa é a ideia, que as pessoas vejam os profissionais estão ligados a prevenção, inclusive a equipe médica, como parceiros, como pessoas que estão ali para cuidar delas. 

Que belíssima entrevista! Quanta generosidade do Dr Daniel Cubero em dividir conosco seu tempo, sua experiência e tanta sabedoria. Ele nos mostra que quando nos dispomos a fazer algo, nós fazemos, pois em meio a tantas atividades, ele prontamente respondeu calmamente a cada pergunta que fizemos a ele. O cuidado e a excelência em tudo que faz é uma característica marcante dele.

Quando nos deparamos com um ser humano tão disposto a cuidar e buscar de mão dadas com suas pacientes o melhor tratamento e a melhor probabilidade de cura, isso nos emociona e mais uma vez nos traz ao principal dessa matéria, a esperança. 

Hoje sabemos que um tratamento multidisciplinar é um fator muito importante para que esse processo de cura seja menos desgastante e mais eficiente. Além do Oncologista, o paciente pode se beneficiar aliando o tratamento a mais especialidades médicas que podem trabalhar juntamente e complementando a indicação do Oncologista responsável, como um  psicólogo, psiquiatra, nutricionista e/ou nutrólogo, radioterapeuta, dermatologista, gastroenterologista, endocrinologista, mastologista e muitas vezes um homeopata, um acupunturista, um terapeuta naturopata, indicação de práticas meditativas e exercícios leves como hatha yoga, tai chi chuan e o incentivo a um hobby e a dedicação a sua parte espiritual.

A alimentação também pode ajudar muito nesse momento de tratamento, nutrindo o corpo e criando novos hábitos que certamente ajudarão na recuperação, remissão e na longevidade.  A medicina Integrativa em tratamentos oncológicos vem trazendo, cada vez mais,  uma série de benefícios que auxiliam além da cura, a autorresponsabilidade do paciente em relação a sua saúde. Junto do médico é possível estabelecer uma relação de confiança e transparência para que o paciente também seja seu agente de cura.

Alguns outros fatores são muito importantes também, é comprovado que quem passa por esse desafio acompanhado de familiares e amigos, passa com mais certezas e segurança, Pessoas que têm fé, independente da religião, tem muito mais chances de enfrentar tudo com mais leveza e sabedoria. O olhar carinhoso e de confiança de todos que cercam o paciente o ajuda a reforçar a positividade e a dar forças para seguir em frente.

    Maria Helena C. Aguiar tem hoje 70 anos e teve o diagnóstico em Outubro de 2014, e está aqui para contar um pouco de sua experiência.

“Recebi a notícia através da minha filha que é Patologista, estávamos indo para o Oftalmologista e ela me informou o diagnóstico, mas ela foi muito positiva em relação ao tipo de tumor. Eu senti aquele nó na garganta, mas segurei. Na consulta com a médica, ela me disse o que faria de tratamento e informou que seria também cirúrgico. Eu perdi o chão, mas logo na hora pensei na cura e me dispôs a fazer tudo que precisasse fazer.

Foi feito um quadrante na mama com câncer e redução na outra mama. Na Radioterapia o médico perguntou porque eu não estava fazendo quimioterapia. Eu disse que a médica não tinha receitado e ele disse que pelo tamanho do meu tumor eu deveria fazer a quimioterapia também.  Eu pedi para a minha médica se ela poderia receitar a quimioterapia para mim e ela pediu para eu pensar bem se eu realmente queria fazer. Eu decidi fazer e fiz 6 sessões de quimioterapia vermelha e fiz 30 sessões de radioterapia, pois a resposta foi boa e então me liberaram das outras 3 que tinham receitado. Fiz as duas juntas, foi pesado, pois sou diabética e hipertensa, mas superei com a ajuda da minha neta e minha filha que estavam como enfermeiras e incentivadoras. É um conjunto de fé, força de vontade, apoio da família e vontade de viver!

Quando eu penso que ele pode voltar, eu penso que eu já ganhei 10 anos sem ele e estou bem, vou enfrentar e lutar para ter mais tempo de vida, e tempo bom! Quando eu tive, não sabia se veria minha neta se formar, trabalhar, dirigir, hoje eu já vi quase tudo isso, eu estou no lucro e então sempre vou lutar para ficar bem e estar bem enquanto estiver lutando. O melhor é não encucar! Não ficar pensando no que não pode fazer por causa da doença, Pense na Vida! Não perca o humor, ria, brinque e celebre cada dia e ria de si própria! Esse é o melhor remédio, melhor que quimioterapia, radioterapia, Anastrozol, sem o riso não tem como passar por isso!

Eu tenho 70 anos, e o meu conselho para os médicos que tratam pacientes oncológicos é que sejam carinhosos, empáticos, brinquem, sejam compreensivos, pois faz toda a diferença. Não sejam julgadores de como chegamos ao diagnóstico, ninguém quer ter câncer, se estão sérios demais, nós imaginamos sempre o pior. Me disseram no dia do exame, após repetir várias vezes o exame, “Não é para você se preocupar agora” e desde esse dia eu já pensava que poderia ser, mas não me entreguei até ter o diagnóstico. Eu faço exames periódicos para ficar boa ,mas se tiver alguma coisa errada, eu tomo remédio e faço o tratamento que o médico receitar. Eu acho que todas as mulheres deveriam ter acesso a quimioterapia e radioterapia se tivessem esse diagnóstico, pois assim teriam menos risco de ver a doença voltar.

Duas das minhas companheiras de tratamento faleceram, infelizmente. Mas antes de voltar a doença e falecer, elas viveram intensamente. Cada um tem seu tempo aqui e elas não se entregaram até chegar o tempo delas. Nós rimos muito juntas nas salas de espera dos médicos e dos tratamentos, não deixamos a peteca cair. Algumas pessoas me olhavam como se não fosse ficar bem, mas eu não me olhava assim.

Se alguém fosse diagnosticado hoje e eu pudesse dar um conselho, eu diria para correr atrás da cura, de fazer seus exames, de aderir ao tratamento, estar com a família, mas também de viver, viver intensamente. Todo mundo vai morrer, alguns de câncer, pode ser que não sejamos nós. Hoje um diagnóstico de câncer não é mais um diagnóstico de morte.”

 

O depoimento acima reforça a certeza que a disposição para aderir ao tratamento faz toda a diferença. Quanto menos resistência apresentar, melhor para que haja uma relação de confiança e sintonia com o médico. É importante que a paciente esteja segura e se não estiver convencida do tratamento, ela precisa ter a liberdade de questionar o médico sem se sentir julgada ou diminuída, é o corpo dela e ela merece ser ouvida e acolhida. Todo paciente tem direito a consultar outros médicos para ter uma segunda e até terceira opinião e decidir qual se encaixa mais no que ela pode fazer e acredita que seja o melhor.

Vivemos numa sociedade que a notícia do que deu errado tem muito mais visibilidade do que a notícia do que está dando certo e nós precisamos mudar isso. Ao invés de contar as perdas, comemorar as vidas salvas. Se o primeiro registro de câncer de mama foi em 2.200 AC e ainda estamos aqui falando disso, significa que muitos avanços ocorreram e muitos outros ocorrerão para que vençamos mais e mais.

É inegável que a prevenção e as campanhas de conscientização são grandes aliados para diminuir as complicações da doença e sanar, quanto antes, os casos diagnosticados. Quanto antes, melhor. E por se tratar, muitas vezes, de algo assintomático, a mamografia é o único método real de prevenção, é importante ter atenção, o autoexame é um modo da mulher se conhecer, mas tumores palpáveis são normalmente tumores avançados que certamente seriam vistos precocemente em mamografias.

       Sandra Marinelli, 57 anos, após ficar viúva e ter uma reviravolta em sua vida, encontrou um novo amor, após 9 meses de namoro se casaram e no auge de sua felicidade teve uma surpresa ao consultar um médico porque estava sentindo uma dor incômoda na mama. Alguns anos antes, em 2014, numa mamografia, pediram para que a refizesse e fizesse uma biópsia, na época não acusou malignidade, mas algo lhe dizia para ir ao médico. Ela foi e ali começou sua saga. Ela nos conta um pouco de sua história.

“Um milagre, é assim que eu acredito que foi como aconteceu. Tive o diagnóstico em 2019 e fui à minha igreja, e tive a certeza de que eu passaria por todo processo e deveria ter fé.

Em nenhum momento eu me desesperei, nem mesmo no dia que fui a médica e ela leu o diagnóstico, e ela me desenganou, dizendo que eu não tinha perspectiva de vida. Ela falou que algumas mulheres conseguem chegar até a cirurgia, mas que outras nem isso conseguiram. Nesse momento meu marido apertou a minha mão e eu olhei para ele e disse que o que ela estava dizendo era o que o que ela estudou, e o que dizia era através dos exames, mas que não era o mesmo que Deus nos disse e então nós iríamos acreditar no nosso Deus.

A primeira médica que falei queria fazer quimioterapia para diminuir o tumor e depois operar, já a segunda, que me desenganou, achou melhor já operar e depois fazer a quimioterapia. 

Conforme os exames, o câncer estava na mama esquerda e axila esquerda. No dia 07 de maio de 2020 eu entrei em cirurgia e aí aconteceu o milagre. Foi feito um quadrante e o esvaziamento da axila, mas na hora que abriu foram tirados 7 linfonodos, mas apesar de nos exames aparecer tumor em todos os linfonodos, apenas a pontinha e um dos linfonodos que tinha uma pequena inflamação que era o tumor maligno. E quando voltei da anestesia, a mesma médica que tinha me desenganado, me disse: 

“Nossa parece que a sua doença parou aqui.”

A cirurgia foi um sucesso. E aí começou o tratamento. Eu fiz 4 sessões de quimioterapia vermelha e 8 sessões de quimioterapia branca e mais 30 sessões de radioterapia. 

Foi tão perfeito que eu nem precisei tomar remédios depois disso, só os exames de rotina e acompanhamento.

Faz 4 anos e estou em paz, feliz, trabalhando, vivendo minha vida. O braço esquerdo foi um pouco afetado e perdeu a sensibilidade, minha mão esquerda continua perfeita. Eu acredito que alguns médicos deveriam ter mais tato, serem mais delicados. Quando o médico fala que a gente não vai viver, é complicado, nem todo mundo tem fé, tem rede de apoio, a vida existe além do diagnóstico e nem todos estão preparados para ouvir isso de forma rude. Não pode mentir, mas há vários modos de dar essa notícia.

Após o tratamento eu perguntei para um médico que eu estava indo se a doença poderia voltar e ele disse que devido ao tratamento que eu havia feito, para eu só pensar nisso após 15 anos, mas me deu alguns conselhos que vou dividir aqui com vocês:
1 – Não se estressar

2 – Ter uma boa alimentação com hábitos saudáveis

3 – Exercícios Físicos

Se alguém me procura e fala sobre uma preocupação em relação ao resultado de um exame de mama, a primeira coisa que sugiro é calma. Eu digo:

 “Respira, espera o médico avaliar e faça todos os exames e procedimentos que ele indicar. Tenha fé!”

Todos nós temos prazo de validade, mais cedo ou mais tarde, chegará nossa vez, mas não devemos nos desesperar! 

Mais uma linda história de superação que lemos acima e mais uma vez vemos que onde o comprometimento com o tratamento, ainda mais aliado à fé e a confiança fez toda a diferença. Sim, é possível mudar a narrativa e trazer boas novas!

Poderíamos colocar muitos depoimentos de pacientes e muitos médicos contando suas experiências, mas essas três pessoas falaram coisas muito parecidas em vivências diferentes do mesmo cenário. Então esse Outubro continua e continuará Rosa para nos lembrar da Prevenção, mas também será de todas as cores do Arco íris para nos lembrar da aliança, da fé e de que se houver uma tempestade, ela não durará para sempre e depois dela pode surgir um lindo Arco íris.

É muito importante desmistificar o fantasma da doença e reforçar a facilitação da cura com o diagnóstico precoce e da saúde com o autocuidado que podemos ter conosco. 

Uma certeza que temos é que esse lembrete de Outubro que é trazido pela campanha do Outubro Rosa,  é só o modo de não nos esquecermos de nossos cuidados, caso não o tenhamos feito até quase o final do ano. Mas não necessariamente deve ser em Outubro, esse é aquele lembrete que colocamos na porta da geladeira para não esquecer de comprar algo essencial que precisamos em casa para que tudo funcione. Não esqueça, você é essencial e é a parte mais importante para que tudo funcione, cuide-se, programe sua mamografia e a consulta com seu médico. Você é importante! No seu recado na porta da sua geladeira, escreva “Eu!” E viva feliz!

*Todos depoimentos dados são opiniões das pessoas entrevistadas e não refletem a visão do veículo sobre temas como religião.

 

Sheila Carozzi – Comunicóloga, Escritora e Redescobridora de todos os seus Mares

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