Lugares como o Largo do Arouche, a Rua Augusta e a famosa Thermas Lagoa são amplamente conhecidos por sua popularidade entre diferentes públicos. Porém, há espaços que fogem do circuito turístico e atraem um público local em busca de experiências mais clandestinas e controversas.
Um desses locais é a Praça Mal. Carlos Machado Bittencourt, apelidada de “Praça da TV Cultura” por estar situada nas proximidades da emissora estatal no bairro da Água Branca. O local, praticamente desconhecido para quem não é da região, tornou-se um ponto de encontro para práticas que vão desde programas sexuais até sexo ao ar livre — uma prática conhecida como dogging e que é considerada crime no Brasil.
A dinâmica na Praça
Dividida em duas áreas principais, a praça tem se transformado em um cenário de encontros informais, onde majoritariamente homens, transexuais e travestis se reúnem. Durante nossas visitas ao local, observamos a dinâmica dos frequentadores: pessoas estacionam carros e motos, transitam de um lado ao outro e, muitas vezes, interagem diretamente no meio das praças ou em áreas mais reservadas.
Conversamos com um frequentador habitual, que preferiu não se identificar. Ele revelou:
“Os garotos de programa que ficam na praça muitas vezes estão em situações precárias. Não são exatamente o que chamamos de atraentes, e a questão da segurança preocupa. No entanto, muitos frequentadores vêm por prazer e são bem mais bonitos e saudáveis.”
Segundo ele, a faixa de preço dos programas varia entre R$50 e R$150. A prática é visível, com indivíduos que chegam a exibir seus corpos de maneira explícita para atrair clientes que passam de carro.
Quando os limites desaparecem
Os relatos sobre o que acontece na praça desafiam os limites do aceitável, tanto pela lei quanto pelo senso comum. Em nossa investigação, testemunhamos homens se transformando no próprio local, trocando roupas comuns por vestidos e perucas.
Motociclistas estacionavam suas motos para encontros rápidos e até atos sexuais à vista de quem passava por perto.
Um visitante relatou que o espaço é uma espécie de “escape” para quem procura realizar fantasias em um ambiente sem regras:
“Aqui ninguém julga. É um espaço onde você pode ser quem quiser e fazer o que quiser. Isso tem seu lado bom, mas também torna tudo muito perigoso.”
De fato, a praça não é apenas um local de encontros, mas também de riscos. Durante nossa investigação, presenciamos uma situação alarmante: um sequestro. Rapidamente ligamos para a polícia e registramos a placa do carro da vítima. Ainda assim, há pouca presença policial ostensiva na área, o que contribui para que atividades ilícitas ocorram livremente.
O que diz a Vizinhança?
Aproveitamos para falar com moradores que vivem em um prédio de classe média localizado em frente a praça. A moradora A.F. de 38 anos revelou: Eu comprei um apartamento aqui e não fazia ideia do que acontecia. Basta chegar na sacada que é possível ver essa pouca vergonha. Chamamos a polícia várias vezes, mas é só a polícia ir embora que tudo volta ao normal. É uma praga. Antigamente a praça ainda era escura, mas hoje em dia é super clara e isso não inibe ninguém’’ contou a Web Designer.
O lado sombrio
O anonimato e a liberdade que a praça proporciona atraem não apenas aqueles que buscam prazer, mas também criminosos e pessoas mal-intencionadas. Relatos de roubos, agressões e até tráfico de drogas são comuns entre frequentadores e moradores da região. Um residente, que preferiu não ser identificado, desabafou:
“Já vi de tudo aqui. É assustador viver perto de um lugar assim. À noite, a praça muda completamente de rosto. Parece outro mundo.”
Além disso, o risco de doenças sexualmente transmissíveis é uma preocupação real, dada a natureza das práticas observadas. Apesar disso, pouco se sabe sobre iniciativas que promovam conscientização ou segurança para os envolvidos.
Reflexão sobre o espaço público
A Praça da TV Cultura, ou Praça Mal. Carlos Machado Bittencourt, levanta questões importantes sobre o uso do espaço público. Até onde vai o limite entre liberdade e respeito às leis? Qual o papel do Estado e da sociedade diante de um local que desafia tanto as normas sociais quanto legais?
Enquanto a praça segue como um refúgio para alguns, continua sendo também um ponto de preocupação para outros. A falta de fiscalização e de soluções efetivas perpetua um cenário que combina curiosidade, perigo e marginalidade.
Para muitos, o que acontece ali é apenas mais uma faceta da complexa dinâmica urbana de São Paulo. Para outros, é um retrato de como a negligência e a falta de políticas públicas podem transformar espaços públicos em zonas de ilegalidade.
O futuro da Praça da TV Cultura ainda é incerto, mas uma coisa é clara: o local continua a ser um reflexo dos extremos da sociedade paulistana, onde liberdade e transgressão convivem lado a lado.