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Exaustão Invisível

O cansaço como nova linguagem do nosso tempo

Há dias em que até respirar parece exigir esforço.

Não é apenas falta de condicionamento físico, nem exatamente tristeza.

É um cansaço que se instala no fundo do corpo — e da alma.

Uma exaustão que não se resolve com oito horas de sono ou um fim de semana longe das telas.

Uma sensação difusa, mas cada vez mais compartilhada: estamos todos esgotados.

Essa exaustão tornou-se uma espécie de idioma secreto entre pessoas que vivem em 2025.

Um “como você está?” respondido com um “tô cansada, mas bem” que já se tornou automático.

O problema é que talvez não estejamos bem.

Só cansados — e sem tempo para entender o porquê.

 

O nome por trás do cansaço

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a Síndrome de Burnout foi oficialmente reconhecida como um fenômeno ligado ao trabalho, caracterizado por sentimentos de exaustão, cinismo e ineficácia. Mas seu alcance vai além dos escritórios e cargos de alta demanda. O burnout tornou-se cultural. Uma linguagem comum que atravessa gerações, profissões e rotinas.

O estudo “Exaustão emocional no Brasil: uma epidemia silenciosa?”, publicado pela Fiocruz, alerta para o impacto do cansaço crônico na saúde pública. De acordo com os dados, sintomas de estafa mental afetam quase metade dos profissionais brasileiros — especialmente mulheres e jovens.

Esse desgaste não é fruto apenas de sobrecarga profissional, mas de um acúmulo de pressões: ser produtivo, bem-informado, emocionalmente disponível, criativo, presente nas redes, atento à saúde, à estética, à carreira. Tentar equilibrar tudo virou uma tarefa exaustiva — e silenciosa.

 

O que fazer quando o mundo não desacelera?

Ainda que a realidade nem sempre permita grandes pausas, é possível construir pequenas estratégias para resgatar o fôlego cotidiano. Abaixo, reunimos algumas práticas baseadas em estudos de saúde mental e bem-estar que podem ajudar a contornar esse estado de exaustão:

1. Reorganize sua relação com o tempo

Estabeleça horários reais de descanso e tente respeitá-los como compromissos inadiáveis. Uma pesquisa da Harvard Business Review aponta que pausas conscientes durante o dia aumentam a produtividade e diminuem o risco de exaustão.

2. Silencie as notificações — e as expectativas irreais

Segundo um estudo do Journal of Applied Psychology, a pressão constante de estar disponível digitalmente está diretamente ligada a níveis elevados de estresse. O silêncio, às vezes, é um ato de resistência.

3. Cuide do corpo como abrigo

Sono, alimentação equilibrada e movimentos leves (mesmo que sejam apenas alongamentos ao acordar) têm efeitos mensuráveis na redução da ansiedade e da fadiga. Um corpo cuidado envia sinais de segurança ao cérebro.

4. Recupere pequenos rituais

A leitura antes de dormir, o café preparado com calma, o passeio sem destino. Não subestime o impacto dessas pausas simbólicas: elas ajudam a recentralizar a atenção e a reduzir a sensação de estar “em falta”.

5. Busque ajuda, se puder

Terapias — presenciais ou digitais — e grupos de apoio são caminhos para organizar pensamentos, dar nome aos sentimentos e encontrar saídas possíveis. A escuta profissional pode transformar o cansaço em compreensão.

 

Talvez o cansaço não passe. Mas pode mudar.

Não se trata de eliminar o cansaço, mas de permitir que ele seja sentido sem culpa.

De entender que o descanso não precisa ser merecido, apenas necessário.

De acolher o próprio limite — e o dos outros.

Talvez a nova linguagem que este tempo exige seja menos sobre performance e mais sobre presença.

Menos sobre controle e mais sobre pausa.

E talvez seja ali, no espaço entre uma respiração profunda e um instante de silêncio, que a vida recomece.

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