High contrast black and white image of models walking down the fashion runway.

Regulamentações Ambientais na União Europeia: Um Novo Capítulo para a Moda Sustentável

A partir de 2025, a União Europeia implementará regulamentações que exigem que as marcas de moda sejam responsáveis por todo o ciclo de vida de seus produtos, incluindo coleta, triagem, reciclagem e reutilização. Essa mudança visa reduzir o desperdício têxtil e promover modelos de negócios circulares.

Em meio a um cenário de urgência climática e crescentes demandas por transparência, a indústria da moda na União Europeia atravessou uma de suas maiores transformações regulatórias. A partir de 2025, marcas que operam em solo europeu estão legalmente responsáveis por todo o ciclo de vida de seus produtos — da criação à reutilização. Trata-se de um marco que promete reformular não apenas os bastidores da produção, mas o próprio imaginário de consumo no século XXI.

Sob o nome de Responsabilidade Estendida do Produtor (EPR), a nova legislação, acordada entre o Parlamento e o Conselho Europeu em fevereiro de 2025, exige que os fabricantes de artigos têxteis financiem a coleta, triagem, reciclagem e descarte adequado de seus produtos. Ou seja: a camiseta que hoje repousa em seu closet deverá ter um destino traçado — e transparente — mesmo após deixar sua vida útil. 

 

Mais que um ajuste logístico, a proposta é ideológica: incentivar o design responsável, punir o desperdício e premiar a durabilidade. Marcas que investirem em materiais recicláveis e processos sustentáveis pagarão taxas menores, enquanto aquelas que ignorarem tais critérios enfrentarão sanções mais severas. “É uma forma de tornar o sistema mais justo e coerente com os princípios da economia circular”, explicou Virginijus Sinkevičius, Comissário Europeu para o Meio Ambiente, à Vogue Business.

 

E não para por aí. A Europa também se prepara para lançar o chamado Passaporte Digital de Produto (DPP) — uma espécie de RG eletrônico que acompanhará cada peça, oferecendo informações detalhadas sobre sua origem, composição, pegada ambiental e cadeia de produção. De acordo com a Vogue Business, o objetivo é ampliar a transparência para consumidores e fortalecer o combate ao greenwashing.

 

A previsão é que o DPP comece a ser aplicado em larga escala até 2030, mas algumas marcas já experimentam a tecnologia. A francesa Chloé, por exemplo, vem adotando o sistema em suas coleções desde 2023. Cada item acompanha um QR code com dados sobre a origem das matérias-primas, processos de produção e condições de trabalho envolvidas.

 

Para os especialistas, o impacto pode ser profundo. “Essas regulamentações mudam o jogo porque exigem responsabilidade real, além do marketing”, declarou a pesquisadora Julia Grosse, da Universidade de Antuérpia, ao The Fashion Law. “Agora, não basta parecer sustentável — é preciso ser, e provar.”

Apesar do entusiasmo, o caminho não será fácil. Pequenas e médias marcas apontam preocupações com os custos de adaptação e a complexidade dos novos sistemas. Ainda assim, há consenso de que a moda precisa se reinventar — e que a legislação pode funcionar como catalisadora de inovações.

 

O panorama europeu lança um olhar curioso sobre o restante do mundo. Se por um lado países como Estados Unidos e Japão ainda discutem medidas similares, por outro, consumidores globais estão cada vez mais atentos aos impactos sociais e ambientais de suas escolhas. Nesse contexto, estar à frente pode ser não apenas um diferencial ético, mas uma vantagem competitiva.

 

No fim, a pergunta que ecoa é: que histórias queremos que nossas roupas contem? A partir de 2025, ao menos na Europa, essa narrativa será escrita com mais responsabilidade, propósito — e, quem sabe, elegância.

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