A invisibilidade visível

A invisibilidade visível

Como não se sentir invisível no meio da multidão? Texto por Daniela Tafner

Como não se sentir invisível no meio da multidão? Você já parou para pensar como é possível se sentir ignorado em meio a pessoas que apressadamente circulam pelas ruas de uma Avenida Paulista ou qualquer outro lugar badalado? Essa sensação de invisibilidade pode ser passageira ou refletir a ideia de não pertencer a um lugar ou grupo.

Quando falamos em invisibilidade visível, a expressão pode até soar paradoxal, mas, se refletirmos um pouco, percebemos que vivemos num mundo que se diz cada vez mais inclusivo e, ao mesmo tempo, excludente. Nossa sociedade insiste em discutir as diferenças, mas frequentemente os processos de inclusão ainda deixam a desejar.

Em algum momento da vida, todas nós já sentimos ou podemos vir a sentir essa invisibilidade. No entanto, essa experiência se intensifica para pessoas negras e pardas no Brasil, passando a fazer parte do cotidiano de forma muito mais palpável.

Na área da saúde, a invisibilidade se manifesta claramente quando falamos do câncer do colo do útero – doença que afeta anualmente mais de 17 mil mulheres e é a quarta principal causa de mortalidade feminina no país. Ao analisar essa condição, observamos que mulheres negras têm 44% mais chances de desenvolver a doença do que mulheres brancas. E, no que diz respeito à mortalidade, o risco aumenta 27% para as mulheres negras. Esses dados revelam um cenário alarmante.

Segundo o INCA, prevenir o câncer do colo do útero depende de uma educação voltada para o autocuidado, da educação sexual e do acesso regular aos serviços de saúde para a realização do exame preventivo, que rastreia o papilomavírus humano (HPV). Para as mulheres negras, no entanto, o acesso a esses serviços é limitado. Questões como dificuldades econômicas, a prevalência de trabalhos informais e um menor grau de escolaridade tornam o autocuidado mais difícil e aumentam a vulnerabilidade ao adoecimento.

Embora você provavelmente acompanhe as discussões sobre questões raciais e os movimentos que lutam por uma realidade mais justa, a chamada invisibilidade visível continua presente e reforça a exclusão na sociedade.

Como reverter esse quadro? A mudança começa com a gente, prestando atenção ao nosso redor. Fora das representações tradicionais nos jornais e nas novelas, onde mais conseguimos ver mulheres negras e pardas ocupando posições de destaque no mundo real?

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