Enquanto o mundo da moda caminha rumo a um futuro mais consciente, o Reino Unido emerge como um dos protagonistas na implementação de práticas sustentáveis e circulares. A movimentação mais recente envolve o avanço de projetos de larga escala que pretendem transformar o destino dos resíduos têxteis e reformular a maneira como consumimos moda. Em meio aos compromissos climáticos e à pressão por uma indústria mais ética, a moda circular ganha protagonismo como alternativa viável — e urgente.
Entre os destaques está o Project Re:claim, primeira planta de reciclagem de poliéster pós-consumo em escala comercial do país. Situado em Kettering, o projeto é liderado pela empresa Salvation Army Trading Company Ltd. (SATCoL), braço comercial do Exército da Salvação, em parceria com a Project Plan B. A planta utiliza uma tecnologia inovadora de separação de fibras que permite transformar roupas descartadas em novos fios de poliéster, reduzindo drasticamente a dependência de matérias-primas virgens e desviando toneladas de resíduos dos aterros.
“O que costumava ser classificado como resíduo agora se torna recurso”, afirma Peter Neville, CEO da Project Plan B. A ambição do projeto é clara: mudar o ciclo da moda no Reino Unido e criar um modelo replicável em outros países.
Além do Project Re:claim, o país também lançou a Circular Fashion Innovation Network (CFIN) — uma aliança entre o British Fashion Council (BFC) e a Universidade de Leeds. Com o apoio de marcas como Burberry, Stella McCartney, Pangaia e inovadores tecnológicos, o CFIN tem como meta estabelecer uma infraestrutura nacional para a reciclagem de roupas e promover pesquisa, inovação e educação em moda circular.
A proposta inclui desde a coleta e triagem eficiente até a reintrodução de materiais no ciclo produtivo de forma regenerativa. Os setores de design circular, modelos de negócios inovadores e digitalização da cadeia produtiva também estão no centro da iniciativa, refletindo uma abordagem sistêmica e intersetorial.
Apesar dos avanços, desafios importantes ainda persistem. A falta de apoio governamental mais robusto, barreiras logísticas e a infraestrutura ainda limitada são obstáculos mencionados por especialistas como entraves ao pleno desenvolvimento da economia circular na moda britânica.
“Estamos construindo a base de uma transformação necessária, mas precisamos de políticas públicas que incentivem a circularidade e investimentos em escala nacional”, afirmou Caroline Rush, CEO do British Fashion Council, durante o lançamento da rede.
A resposta do consumidor também será fundamental para consolidar o novo paradigma. À medida que cresce o interesse por rastreabilidade, reuso e materiais regenerativos, marcas que investem em práticas sustentáveis tendem a ganhar vantagem competitiva.
Com iniciativas como o Project Re:claim e a Circular Fashion Innovation Network, o Reino Unido demonstra que é possível alinhar tradição e inovação em busca de um sistema mais justo, transparente e ambientalmente responsável. A indústria da moda está, mais do que nunca, diante de uma escolha histórica: continuar em um modelo linear e insustentável ou abraçar de vez a circularidade como pilar de futuro.
