Robinne Lee, além da ficção

Em entrevista exclusiva, a autora de Uma ideia de você fala sobre seu primeiro livro e as questões sociais envolvidas na história

Leia a matéria completa na edição digital de agosto


Sheila conheceu seu marido Luís em uma rede social, no ano de 2004. Ela tinha 31 anos. Perceberam que tinham gostos musicais iguais, e também gostavam dos mesmos filmes e livros. Conversaram por muitos dias e se encantaram um com o outro, mas nunca perguntaram a idade do outro ou falaram sobre trabalho, até o dia em que Luís disse que viajaria até a cidade dela para prestar vestibular. Ele tinha 18 anos. “As garotas que o desejavam me chamavam de velha, minhas amigas faziam piadas, e um amigo disse que gostar de um rapaz dessa idade beirava uma doença”, diz. Mesmo assim, o namoro seguiu em frente e eles estão casados há 16 anos. 

Essa história, real, faz parte da realidade de muitas mulheres, e é neste universo que está inserido o o livro de estreia da autora e atriz Robinne Lee, Uma ideia de você, lançado no Brasil pela Globo Livros.

A obra, adaptada recentemente para o cinema, mistura elementos de drama e romance com uma pitada de realidade do mundo das celebridades e dos tantos preconceitos existentes na sociedade. Robinne conta que uma experiência de vida a ajudou a pontuar, em seu livro, questões sociais como o etarismo, o sexismo e a frequente e comum desvalorização da mulher após os 40 anos.”Nos meus vinte anos, tive um relacionamento com alguém mais jovem, e, por isso, recebi muitas críticas dos meus amigos na época”, diz. Robinne fez questão de inserir essas questões em seu livro. “Pensei que essa seria uma história digna de ser contada: sobre uma mulher de 40 anos que, de repente, se encontrava em um relacionamento com um rapaz muito mais jovem e vivia em uma certa bolha de celebridade, que afetava todos os aspectos da vida dele e, consequentemente, da dela”, diz.  “Mas a única maneira de realmente fazer justiça a isso era incluir comentários sociais sobre etarismo e sexismo e o duplo padrão, e maternidade – e como nós, mulheres, muitas vezes colocamos a felicidade dos outros antes da nossa. Eu não queria escrever uma história de amor superficial. Queria que fosse muito mais profunda”, complementa.

Segundo Amanda Orlando, editora do livro pela Globo Livros, “Uma ideia de você é um romance sexy e divertido que trata ao mesmo tempo de temas importantes e que raramente são discutidos de forma aberta em obras comerciais, como etarismo, os vários preconceitos que ainda insistem em recair sobre as mulheres, a nem sempre pacífica relação entre mãe e filha e o poder cáustico da imprensa de celebridades. É muito bacana saber que tanto o filme quanto o livro estão gerando conversas sobre essas questões.”

“Eu coloquei muitas mensagens no livro, sendo a mais importante, que nossa cultura desvaloriza a arte das mulheres e as artistas mulheres. E que isso acontece em várias formas, seja na música, na arte, literatura, cinema, teatro e etc”, diz Robinne. “Há um duplo padrão em como vemos relacionamentos com diferenças de idade, e quando a mulher é a parte mais velha, em comparação com o homem sendo mais velho. O sexismo e o etarismo são rampantes em nossa cultura, em Hollywood, no mundo da arte, na mídia, e muitos outros ambientes”, comenta. 

“É importante ressaltar que, como mulheres, muitas vezes, justo no momento em que estamos entrando em nosso poder como adultas, as mensagens em nossa cultura nos fazem acreditar que perdemos nosso valor, nossa viabilidade, nosso apelo e nosso valor. Que, em certa idade, as mulheres se tornam invisíveis. Enquanto os homens em idades semelhantes continuam a ganhar poder e valor”, fala a autora.

(leia mais sobre estas questões sociais mencionadas pela autora no texto após a matéria)

 

O livro 

Atriz de diversos filmes como Cinquenta tons mais escuros, Cinquenta tons de liberdade e também da série Buffy, a caça-vampiros, engana-se quem pensa que Robinne é iniciante na literatura. “Tanto atuar quanto escrever sempre foram uma grande parte de quem eu sou. Estou envolvida em ambos desde a infância, e eles são, de muitas maneiras, inseparáveis para mim”, fala a autora, graduada em Literatura Inglesa e Estudos Americanos, pela Universidade de Harvard. “Mesmo quando comecei a atuar profissionalmente fazendo peças e comerciais e pequenos papéis na TV em Nova York, eu escrevia como freelancer para várias revistas e publicações, e trabalhava em um romance anterior”, complementa.

Robinne conta que a ideia para o livro surgiu de uma conversa despretensiosa com seu marido. “Brincando, disse a ele que estava pensando em fugir para seguir um garoto bonitinho de uma banda”, relata. Ele respondeu que essa poderia ser uma ótima trama para um livro, e assim nasceu a ideia de Uma ideia de você. O enredo gira em torno de Solène, uma mãe solteira de 39 anos, que se envolve com um jovem astro de uma boy band, tema que ressoa com as experiências de Lee no show business nos anos 90, quando trabalhou com gerenciamento de bandas. “Um dos membros do New Kids on the Block era nosso produtor e eu o conhecia razoavelmente bem. Tive uma visão interna de como era a vida em uma boy band muito bem-sucedida e requisitada. O caos, os fãs, as viagens intermináveis, o tempo no estúdio, dirigindo em caravanas com jovens batendo nas janelas dos nossos veículos. Havia algo intoxicante em tudo isso, mas também havia um nível de insanidade. E enquanto eu podia ir para casa e escapar desse tipo de vida intensa, eles não podiam. E achei isso muito fascinante.”

O sucesso do livro levou à sua adaptação para um filme, com Anne Hathaway e Nicholas Galitzine nos papéis principais. Ver seus personagens ganharem vida na tela foi uma experiência surreal para Robinne. “A cena em que Solène pega Isabelle na escola e ela está em um estado emocional, tendo sido provocada por colegas de classe devido ao relacionamento de sua mãe, é bastante fiel ao livro. Para Solène, esse é o ponto de virada. O momento em que ela sabe que vai colocar sua filha em primeiro lugar. Meu coração se parte por Izz nessa cena. Parte-se por ambas”, diz a autora.

Para Robinne, a transição de atriz para autora foi repleta de altos e baixos. Escrever o romance foi um processo emocional e envolvente. “Eu estava obcecada durante todo o processo de escrita”, admite. A autora conseguiu um agente rapidamente, e as vendas seguiram em ritmo acelerado, mas a publicação enfrentou desafios devido ao livro não se encaixar em um único gênero.

A parte mais gratificante para Lee foi a conexão com seus leitores. “Eles são principalmente mulheres que sentem que esta história e esses personagens as mudaram de alguma forma profunda”, diz. 

Atualmente, Robinne está trabalhando em seu próximo romance. “Estou fazendo reescritas no meu próximo romance, que espero concluir mais cedo ou mais tarde. Não posso compartilhar muito sobre ele, mas é a busca de uma mulher por si mesma em um mundo desconhecido. E embora não seja uma história de amor, há definitivamente elementos que irão atrair os fãs de Uma ideia de você”, fala.

Uma ideia de você, um mix de drama e romance, com escrita leve e passagens ousadas e bem redigidas de intimidade, é um sucesso de vendas da Globo Livros e também tornou-se o queridinho da rede social TikTok. “As vendas duplicaram depois que o filme foi lançado”, conta a editora da obra Amanda Orlando. 

Questões sociais

“E nem preciso comentar que  as coisas que diziam sobre mim – sobretudo os fãs – não eram nem um pouco gentis. Ferinas, cáusticas, ultrajantes, ofensivas. Discriminando meu sexo, minha idade. Comentários horríveis.”

— Uma ideia de você – Robinne Lee – pág. 358

A autora incluiu em seu textos diversas mensagens que englobam o universo da mulher,  sendo as mais importantes, o etarismo e a discriminação de gênero. Na história, ela traz à tona questões importantes, incentivando o debate saudável sobre este contexto. 

“Eu coloquei muitas mensagens no livro e espero que meu público leve algumas delas para a vida”, diz. “É importante ressaltar que, como mulheres, muitas vezes, justo no momento em que estamos entrando em nosso poder como adultas, as mensagens em nossa cultura nos fazem acreditar que perdemos nosso valor, nossa viabilidade, nosso apelo e nosso valor. Que, em certa idade, as mulheres se tornam invisíveis. Enquanto os homens em idades semelhantes continuam a ganhar poder e valor”, fala a autora.

A D’Idées Magazine conversou com algumas mulheres na faixa de idade – entre 40 e 50 anos –  da personagem Sòlene, do livro Uma ideia de você, perguntando se já haviam sido discriminadas, em qualquer ambiente, por conta da idade ou do gênero. 

*os nomes reais foram trocados por nomes de mulheres que já lutaram em defesa dos direitos das mulheres

 

“Aquela ali vai amanhecer morta no canavial” foi o que Malala ouviu de um colega homem, ao vistoriar uma obra, quando assumiu uma posição na área de logística (predominada por homens). “As manifestações se deram com ‘cancelamentos’ à minha liderança e  verbalizações diretas, dizendo que não obedeceriam uma mulher”, comenta. “Mas consegui superar essa barreira e depois de muita transparência, diálogo e aproximação com o time, reverti esse cenário”. 

A engenheira elétrica Frida passou por situações parecidas. “Quando eu assumi uma área, era muito testada, principalmente pelos homens. Faziam perguntas capciosas. Quando eu era bem nova, fui solucionar um problema em outro estado, como responsável técnica da empresa. O cliente começou a me fazer várias perguntas, como onde eu me formei, há quantos anos, como que uma multinacional tinha mandado uma pessoa como eu para lá!  A minha resposta foi super dura, e eu disse, ‘ sou eu que posso resolver esse problema. Caso não se sinta confortável, eu posso voltar”, conta.

A engenheira também diz que geralmente seus funcionários são homens, e que já aconteceu de falarem com o funcionário como se fosse o líder, e falarem com ela como se fosse a secretária. “Já responderam rindo, ‘ela que é sua chefe? Nossa, eu pensei que você fosse chefe dela”, conta. Frida também conta que, muitas vezes, no tratamento com funcionários homens, foi chamada de agressiva. “O curioso é que o homem é arrojado, mas a mulher é agressiva”, diz. 

Já a educadora Simone conta que quando tinha 30 anos, a pergunta em entrevistas sempre era quando ela teria filhos, e agora, aos 50, a dúvida é se ela se relacionaria bem com chefia e equipe de idade menor, e se ela estará focada em se aposentar, e não em exercer um bom trabalho. “Existe uma grande dificuldade também em cadastrar meu currículo em plataformas, pois o algoritmo me barra pela idade”, diz.

Mas os preconceitos contra a mulher não acontecem apenas no trabalho. Mulheres como Virginia já viveram experiências assim dentro da própria casa. “Meu ex-marido nunca me deixava ir ajudar com obras  –  pintura, montagem de móveis, carregar móveis – e  sempre dei conta de fazer essas coisas”, conta. “E depois ele  me difamava,  dizendo aos outros que eu era preguiçosa”, conta. 

A advogada Marie conta que sofreu preconceitos em relação à aparência. “Devido a alergias, cortei o cabelo bem curto, assumi os cachos e  meus cabelos brancos. Também engordei por conta da pandemia, que dificultou a atividade física. Tenho 50 anos e estou muito bem para a idade, mas é muito comum me darem o lugar no trem, no metrô, em qualquer local que tenha uma cadeira”, diz. “Uma vez, ao buscar meus filhos gêmeos de 5 anos na escola, uma avó de um colega me fez um comentário qualquer dizendo que as crianças eram meus netos. E eu disse a ela que eles eram meus filhos. Ela ficou muito sem graça”, conta. 

“Infelizmente tenho certeza de que muitos acham isso e que muitas mulheres vivem isso também”, completa.

Marie conta que essas situações mexem com a autoestima e autoconfiança. “Já não me sinto tão bem como me sentia antes, seja quando saio com meu marido, seja em casa, ou até sozinha”.  

“Vejo diariamente como o preconceito de gênero e de idade impacta negativamente a vida das mulheres”, diz a psicóloga Maria Izabel Leitte. “O preconceito de gênero perpetua estereótipos que limitam as oportunidades profissionais, impondo expectativas desiguais em relação às responsabilidades familiares e à expressão emocional. As mulheres frequentemente enfrentam descrença em suas capacidades e têm de provar seu valor de forma mais intensa do que seus colegas homens”, comenta.  “Além disso, o preconceito de idade afeta gravemente as mulheres, especialmente à medida que envelhecem. Nossa sociedade valoriza a juventude, o que leva a uma desvalorização das mulheres mais velhas, tanto no mercado de trabalho quanto na vida pessoal. Isso pode resultar em sentimentos de invisibilidade e falta de autoestima, exacerbando problemas de saúde mental como depressão e ansiedade”, finaliza. 

Mulheres históricas

Frida Kahlo: A renomada artista mexicana explorou temas de identidade, gênero e política em suas obras. Frida enfrentou muitas adversidades pessoais e se tornou um ícone tanto pela sua arte quanto pela sua postura desafiadora em relação às normas sociais da época.

Marie Curie: Física e química que foi a primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel, e a única pessoa a ganhar o Prêmio Nobel em duas áreas científicas diferentes.

Virginia Woolf: Escritora e ensaísta inglesa, considerada uma das figuras mais importantes do modernismo literário e do feminismo.

Simone de Beauvoir: Filósofa, escritora e feminista francesa, considerada uma das fundadoras do feminismo moderno. Sua obra mais famosa, “O Segundo Sexo”, é um marco na história do pensamento feminista e continua a ser uma referência importante para os estudos de gênero.

Malala Yousafzai: Ativista paquistanesa que defende o direito das meninas à educação, especialmente no seu país natal, onde o Talibã já proibiu a frequência escolar para meninas. Em 2012, Malala foi vítima de um atentado a tiros por defender essa causa, mas sobreviveu e se tornou um símbolo global da luta pela educação feminina.

Entenda os termos relacionados aos preconceitos contra a mulher:

Duplo Padrão Moral: uma barreira à igualdade de gênero

No contexto das relações de gênero, o duplo padrão moral é um fenômeno que perpetua a desigualdade entre homens e mulheres, estabelecendo normas e expectativas diferentes para cada sexo em situações semelhantes. Este conceito refere-se à aplicação de julgamentos distintos a comportamentos iguais, dependendo se o indivíduo é homem ou mulher. 

Um exemplo de duplo padrão pode ser visto no ambiente de trabalho. Homens que demonstram assertividade são frequentemente vistos como líderes naturais, enquanto mulheres com o mesmo comportamento podem ser vistas como agressivas ou autoritárias. Essa disparidade nos julgamentos prejudica a progressão na carreira das mulheres e perpetua a desigualdade salarial e de oportunidades.

A origem do duplo padrão moral está profundamente arraigada em estruturas patriarcais que historicamente valorizaram os homens e suas contribuições acima das mulheres. “Superar essa desigualdade exige um esforço coletivo para questionar e reconfigurar essas normas sociais”, diz a psicóloga Maria Izabel Leitte.

Etarismo: O desafio das mulheres em todas as idades

O etarismo, preconceito baseado na idade, é uma questão crescente na sociedade moderna, impactando particularmente as mulheres. Seja na juventude ou na maturidade, elas enfrentam barreiras que limitam suas oportunidades e as subjugam a estereótipos prejudiciais.

Para as mulheres mais jovens, o desafio muitas vezes está relacionado à falta de credibilidade e à desvalorização de suas competências. A juventude é erroneamente associada à inexperiência, o que pode dificultar a entrada no mercado de trabalho ou a ascensão em suas carreiras. 

Por outro lado, as mulheres mais velhas enfrentam a exclusão e a invisibilidade social. Em uma cultura que valoriza a juventude, a maturidade feminina é desconsiderada. No ambiente de trabalho, elas são muitas vezes descartadas ou empurradas para a aposentadoria antecipada, apesar de sua vasta experiência e conhecimento. A psicóloga Maria Izabel Leitte comenta: “A luta contra o etarismo é uma luta pela dignidade e pelo reconhecimento do valor das mulheres em todas as fases da vida. É essencial que, como sociedade, reconheçamos e respeitemos a contribuição de todas as idades, promovendo uma cultura de respeito e igualdade”. 

May-December: amor além das estações

Nos cenários amorosos contemporâneos, uma expressão que vem ganhando visibilidade é “May-December”, usada para descrever relacionamentos com uma diferença significativa de idade entre os parceiros. O termo, que remonta ao século XIX e é usado com mais frequência nos países do hemisfério norte, evoca a imagem das estações do ano – maio representando a juventude da primavera e dezembro, a maturidade do inverno.


Entrevista exclusiva com Robinne Lee

D’Idées: Como surgiu a ideia para Uma ideia de você? Houve alguma inspiração específica por trás da história?

Robinne Lee: Comecei a escrever Uma ideia de você em março de 2014, após uma breve conversa com meu marido. Ele sempre foi a pessoa em quem mais confio para trocar ideias criativas. Sempre fizemos isso um para o outro. E quando, brincando, disse a ele uma noite que estava pensando em fugir e deixá-lo com as crianças para seguir um garoto bonitinho de uma banda, ele me disse: “Sabe, isso daria um ótimo livro! Uma mãe solteira com uma filha apaixonada por uma boy band. E de alguma forma a mãe acaba se envolvendo com um dos membros da banda.” E eu soube, mesmo enquanto ele dizia, que era uma ideia brilhante e que eu poderia fazer justiça à história.

Nos anos 90, quando eu gerenciava grupos de canto, um dos membros do New Kids on the Block era nosso produtor e eu o conhecia, e aos outros caras do grupo, razoavelmente bem. Tive uma visão interna de como era a vida em uma boy band muito bem-sucedida e requisitada. O caos, os fãs, as viagens intermináveis, o tempo no estúdio, dirigindo em caravanas com jovens batendo nas janelas dos nossos veículos. Havia algo intoxicante em tudo isso, mas também havia um nível de insanidade. E enquanto eu podia ir para casa e escapar desse tipo de vida intensa, eles não podiam. E achei isso muito fascinante.

Quando a ideia desse livro surgiu, eu tinha cerca de 40 anos e trabalhava em uma indústria que não é muito gentil com as mulheres após certa idade. E estava muito ciente de que, justo quando eu estava entrando em meu poder como mulher e atriz, os papéis disponíveis para mim eram subitamente menores e mais distantes. E as descrições dos papéis eram consideravelmente menos desejáveis. Parte de mim ficou muito frustrada e queria protestar contra essa ideia em nossa cultura de que as mulheres não são mais viáveis após os 40 anos. E eu sabia que isso poderia ser o veículo certo para isso.

Então, pensei que se eu pudesse escrever uma história de amor muito honesta e reveladora sobre uma mulher dessa idade que de repente se encontrava em um relacionamento com um rapaz muito mais jovem, que vivia em uma certa bolha de celebridade que afetava todos os aspectos da vida dele e, consequentemente, da dela, poderia ser uma história digna de ser contada. Mas a única maneira de realmente fazer justiça a isso era incluir comentários sociais sobre etarismo e sexismo e o duplo padrão, e maternidade – e como nós, mulheres, muitas vezes colocamos a felicidade dos outros antes da nossa. Eu não queria escrever uma história de amor superficial. Queria que fosse muito mais profunda. E então todas essas ideias estavam se acumulando e colidindo na minha cabeça ao mesmo tempo, e como escritora, eu só precisava proporcionar um espaço para Solène e Hayes contarem sua história. E assim o fiz.

D’Idées: Como tem sido sua jornada como autora, especialmente considerando que este é seu primeiro livro? Quais foram os aspectos mais gratificantes e desafiadores de trazer esta história ao mundo?

Robinne Lee: Acho que minha jornada como autora tem sido muito não tradicional e inesperada. Embora escrever um romance nunca seja fácil, dar à luz Uma ideia de você foi uma experiência na maioria das vezes agradável, embora muito emocional. Eu estava obcecada durante todo o processo de escrita. Isso me consumiu completamente. E então eu coloquei tudo no papel relativamente rápido. Consegui um agente rapidamente. Fiz as reescritas dele e vendemos rapidamente. Mas foi a parte da publicação que teve tantos altos e baixos. O livro teve um pequeno lançamento, e então me comprometi a divulgá-lo nas redes sociais e a me envolver com meus leitores, construindo uma comunidade nos últimos sete anos até o que é agora.

E eu acredito que a parte mais gratificante de trazer este livro ao mundo foi conhecer e conhecer meus inúmeros leitores. Eles são principalmente mulheres que sentem que esta história e esses personagens as mudaram de alguma forma profunda. E sempre serei grata e impressionada por essa conexão. O aspecto desafiador foi publicar um livro que misturava gêneros e não se encaixava em nenhuma caixa específica. E então, não havia uma maneira estabelecida de posicioná-lo e comercializá-lo corretamente para seu público-alvo. Até hoje, recebo muitos leitores de romance irritados procurando por um final feliz. Mas este livro nunca foi para ser um romance. É uma história de amor. Não segue as regras do romance, e embora isso decepcione muitos – acho que é uma grande parte do que torna a história memorável.

D’Idées: Enquanto trabalhava como atriz, você já teve o desejo de fazer a transição da tela para o papel de escritora? Como a atriz se sente ao se ver do outro lado da tela, como autora?

Robinne Lee: Tanto atuar quanto escrever sempre foram uma grande parte de quem eu sou. Estou envolvida em ambos desde a infância, e eles são, de muitas maneiras, inseparáveis para mim. Mesmo quando comecei a atuar profissionalmente fazendo peças e comerciais e pequenos papéis na TV em Nova York, eu escrevia freelance para várias revistas e publicações, e trabalhava em um romance anterior. Então, nunca imaginei realmente fazer um em vez do outro.

Como atriz, sou hipercrítica das minhas performances na tela. E como autora, sou igualmente crítica da minha escrita. Sou um pouco perfeccionista nesse sentido. Estou sempre me esforçando para ser melhor.

D’Idées: O relacionamento entre Solène e Hayes é central para a trama. A diferença de idade abordada pela história é uma abordagem importante. O que a levou a explorar a dinâmica de um romance entre uma mulher mais velha e um homem mais jovem, especialmente considerando as dinâmicas de celebridade envolvidas?

Robinne Lee: Nos meus vinte anos, namorei alguém que era cinco anos mais jovem que eu e recebi muitas críticas por isso dos meus amigos na época. Passei seis anos antes de escrever Uma ideia de você escrevendo um livro semi-autobiográfico sobre esse relacionamento, mas não consegui vendê-lo. E quando a ideia para esta história surgiu, olhei para trás e pensei que se aumentasse consideravelmente os riscos, poderia ser mais intrigante. Com vinte anos de experiência como atriz, também tive experiências suficientes com celebridades e fama para escrever sobre esse tipo de relacionamento de forma inteligente. E então pensei que se combinasse os dois – a idade e o elemento da fama – e depois incluísse as responsabilidades e expectativas da maternidade, e as realidades de uma mulher envelhecendo, poderia escrever uma história muito provocativa e envolvente.

D’Idées: Os atores Anne Hathaway e Nicholas Galitzine interpretam os papéis principais no filme. Como foi ver esses personagens ganharem vida na tela? Houve alguma cena ou momento no filme que você achou particularmente emocionante ver adaptado?

Robinne Lee: Ver atores consagrados interpretarem seus personagens é absolutamente surreal. Quando estou escrevendo personagens, não tenho uma imagem específica em mente. Tenho ideias, mas é mais um sentimento que tenho pelo personagem, em vez de um rosto específico. Isso me permite ser mais flexível no que faço o personagem dizer e fazer. E então é interessante ver o que os cineastas acabam escolhendo para habitar essas pessoas que criei. Eles nunca serão exatamente como os criei. Mas, como alguém que já atuou em dezenas de filmes e habitou personagens criados por outros escritores, posso apreciar isso.

A cena em que Solène pega Isabelle na escola e ela está em um estado emocional, tendo sido provocada por colegas de classe devido ao relacionamento de sua mãe, é bastante fiel ao livro. Para Solène, esse é o ponto de virada. O momento em que ela sabe que vai colocar sua filha em primeiro lugar. Meu coração se parte por Izz nessa cena. Parte-se por ambas.

D’Idées: Há um papel dos fãs e da mídia no filme, colocando muita pressão no casal principal. Como atriz, você já experimentou essa pressão da mídia ou dos fãs?

Robinne Lee: Sim. Mas senti muito mais isso como escritora do que como atriz. Fandoms podem ser lindos, mas também podem ser brutais. E na era das redes sociais, e do anonimato e bullying na internet, acho que seria prudente prestarmos atenção em como esse tipo de comportamento muitas vezes cruza a linha.

D’Idées: Que mensagem você espera que os leitores e espectadores tirem após experimentar a história de Solène e Hayes?

Robinne Lee: Eu coloquei muitas mensagens no livro, e embora eu saiba que a maioria dos leitores provavelmente não as entenderá todas, espero que levem algumas. Mais importante, que nossa cultura desvaloriza a arte das mulheres e as artistas mulheres. E que isso acontece em várias formas. Música, arte, literatura, cinema, teatro, etc. Que há um duplo padrão em como vemos relacionamentos May/December quando a mulher é a parte mais velha em comparação com o homem sendo mais velho. Que o sexismo e o etarismo são rampantes em nossa cultura, em Hollywood, no mundo da arte, na mídia, etc. Que, como mulheres, muitas vezes, justo no momento em que estamos entrando em nosso poder como adultas, as mensagens em nossa cultura nos fazem acreditar que perdemos nosso valor, nossa viabilidade, nosso apelo e nosso valor. Que, em certa idade, as mulheres se tornam invisíveis. Enquanto os homens em idades semelhantes continuam a ganhar poder e valor. Que, como mulheres, tendemos a colocar a felicidade dos outros antes da nossa. Que há um lado muito mais sombrio da celebridade e da fama que a maioria das pessoas não conhece ou nunca considerou seriamente. Que os fãs podem muitas vezes machucar as próprias pessoas que idolatramE que às vezes o amor não conquista tudo.

Tenho certeza de que há mais nisso, mas isso é um bom começo.

D’Idées: Você era fã de alguma boy band na sua adolescência? Gostaria de compartilhar conosco?

Robinne Lee: Eles não eram uma boy band, mas na adolescência eu era obcecada por Duran Duran, um grupo pop britânico que era muito popular na época e que ainda está fazendo música até hoje. Eles não eram fabricados. Não havia coreografia. Todos tocavam seus próprios instrumentos, escreviam suas próprias músicas e faziam uma ótima música. Mas eram cinco garotos muito bonitos na casa dos vinte anos, com sotaques encantadores, cabelos ótimos, maçãs do rosto e maxilares quadrados, e um apelo sexual imenso – e isso era tudo que eu precisava. Muito do que está na minha vida veio daqueles poucos anos formativos e minha obsessão com Duran Duran.

D’Idées: Agora que o livro foi lançado e o filme está disponível ao público, quais são seus próximos projetos criativos? Há algo que você possa compartilhar sobre seus planos futuros na literatura ou no cinema?

Robinne Lee: Atualmente, estou fazendo reescritas no meu próximo romance, que espero concluir mais cedo ou mais tarde. Tive um bloqueio criativo severo por anos após a conclusão do último livro, então ficarei muito aliviada quando este próximo sair das minhas mãos. Não posso compartilhar muito sobre ele, mas é a busca de uma mulher por si mesma em um mundo desconhecido. E embora não seja uma história de amor, há definitivamente elementos que irão atrair os fãs de Uma ideia de você. 


Relato de Sheila R. sobre preconceitos sofridos em sua história de vida

Eu conheci o Luís pelo Orkut em setembro de 2004, na comunidade “I Love Al Pacino”. Eu o adicionei, era o meu primeiro dia de Orkut e mal sabia o que estava fazendo, ele me chamou na hora e perguntou quem eu era. Nós começamos a conversar e nos direcionamos para nossos Blogs e Fotologs. Eu não perguntei a idade dele e nem ele a minha. Eu deduzi que ele tivesse uns 27 anos e já achei que não daria certo por isso também, além da distância, pois ele morava no Paraná, em Maringá, e eu, em São Paulo.

Eu deduzi a idade pelos gostos dele, já que ele amava The Beatles, Led Zeppelin, U2, Peter Gabriel, The Police, The Clash, Depeche, entre outros da mesma linha e época, e também amava os mesmos filmes. Todas as noites conversávamos um pouco e eu me encantava cada dia mais. Minha rotina era bem exaustiva, saía do trabalho sempre de madrugada e então nunca o nosso papo evoluía para eu questionar onde ele trabalhava ou o que estudava. Até que um dia falamos de idade e eu quase tive um troço. 

Meu avô paterno era 15 anos mais velho que a minha avó, meu pai era casado na época e tinha 15 anos a mais que a esposa, minha mãe é casada com meu padrasto desde 1995 e ele é 11 anos mais novo que ela e eu achava tudo isso lindo, até que eu me apaixonei por um menino de 18 anos…

Nos encontramos quando ele veio prestar vestibular em São Paulo, e eu deixei na portaria do prédio do pai dele o livro Benjamin do Chico Buarque, com uma dedicatória na qual escrevi a música “Futuros Amantes”, também do Chico. Borrifei meu perfume, e imaginei que aquilo seria o mais próximo de mim que ele chegaria,  mas ele recebeu o pacote, me ligou e disse: “Eu preciso te ver. Vamos jantar no domingo após a prova.” 

Era um domingo muito chuvoso e alagado em São Paulo, mas eu fui buscá-lo e fomos jantar. Foi uma noite deliciosa, rimos, conversamos, parecia que já nos conhecíamos. Saindo de lá fomos para um café  e batemos papo até 2 da manhã. Nesse dia, combinamos que seríamos os melhores amigos um do outro eternamente, pois era inviável um relacionamento entre nós e dissemos: “Talvez em outra vida, quando formos gatos”, como é dito no filme Vanilla Sky.

Bem… ele foi para o Paraná, e nos afastamos e nos reaproximamos algumas vezes. As garotas que o desejavam me chamavam de velha, minha mãe me chamava de sem noção e pedia que minhas amigas colocassem juízo na minha cabeça, meu pai me disse que se eu seguisse com isso, poderia me machucar, pois em algum momento essa diferença de idade ia me fazer sofrer e eu respondi que tudo tinha dado errado até ali, e se desse errado, seria mais um relacionamento que deu errado. Mas e se desse certo? O errado eu já conhecia. As amigas tiravam sarro, um amigo disse que eu gostar de um cara tão novo era muito estranho, beirava uma doença. Sim, eu tinha medo. Eu me censurava também,  apesar de não o ver como um menino. 

Começamos a namorar de verdade em 2005. Passamos diversos momentos difíceis, ouvi muitos comentários misóginos me diminuindo como mulher e dizendo que eu deveria me colocar no meu lugar e parar de fazer esse papel ridículo.

Alguns exemplos de comentários:

“Vai casar na igreja com 35 anos? Está grávida, por isso vai casar? (Eu não estava grávida, engravidei após 3 anos de casados). Precisava casar? Você não tem medo dele te trocar por uma novinha? Você o viu  conversando com aquela moça mais nova? Cuidado, hein! Ele poderia ser seu filho!  Não dou 1 ano para acabar esse casamento. Ele está dando o golpe do baú, só pode ser. Como você quer que dê certo algo assim, mulher mais velha que o homem? É pedir para ser traída. Mas quando você casa com alguém tão mais novo já sabe terá prazo de validade e terá problemas. Eu achei que ela fosse a sua mãe! Como você conseguiu fisgar um gato deste? Você não acha que está muito gorda para casar vestida de noiva?”

E até hoje acontece!  Hoje eu tenho 51 anos e ele tem 37. Sou gorda ainda, hoje peso o mesmo que pesava quando casei, 92,6 kg, tenho 1,52 m de altura, me acho linda, me amo, assumi meus grisalhos e adoro meus cachos grisalho. Eele está ficando grisalho, cada dia mais lindo, meus olhos brilham quando olho para ele, trabalhamos home office e a convivência é ótima, temos prazer em estar juntos e fazer coisas juntos. Claro que temos problemas, mas como ele diz, “99% é ótimo” e trabalhamos o 1% para ser sempre o melhor.

Às vezes dançamos do nada, cantamos juntos, rimos juntos, já choramos muito juntos também (perdemos nossas gêmeas univitelinas na gestação e isso além  da dor gerou muitos comentários e opiniões cruéis e muito etaristas, sexistas e gordofóbicas também), mas, mais sorrimos do que choramos.

Nós casamos no cartório e na igreja, há 16 anos, e temos muitas histórias, buscamos nossa felicidade e união todos os dias. O alicerce é o amor, o respeito, a admiração, a empatia, a compreensão, a cumplicidade e a certeza de que Deus está conosco e que não cai uma folha de uma árvore sem a permissão Dele. Ele nos uniu e nós fazemos a nossa parte todos os dias, com a permissão e bênçãos Dele. 

Ele, meu marido, achou o filme Uma ideia de você e assistimos juntos. O filme mexeu muito comigo, pois sei bem o que ela passou e ele também passou, essa espera, essa dúvida, esse questionamento interno que temos e que nós, mulheres, sofremos mais com isso porque as pessoas se sentem à vontade de nos questionar, inclusive mulheres. 

Mas quando investimos mais no nosso autoconhecimento e amadurecimento consciente, estamos mais perto de saber quem somos e mesmo que às vezes os questionamentos externos mexam conosco, logo nos encontramos de novo e lembramos que somos mais que um estereótipo que sabe-se lá quem inventou como padrão.

No amor, no trabalho, nas relações pessoais e profissionais não temos que ser julgadas pelo nosso gênero, idade, posição social, porte, raça ou qualquer outra imposição que nos divida, temos que ser respeitadas pelo ser humano que somos antes de qualquer coisa!

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