Mais de 380 milhões de crianças e adolescentes são obesos no mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). A obesidade em crianças é uma das causadoras de desenvolvimento de doenças como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e diversas formas de câncer.
Com a volta às aulas, pais costumam enfrentar dificuldade em manter uma alimentação saudável nas lancheiras, evitando o envio de produtos processados como bolachas recheadas e salgadinhos. E, para isso, é necessário começar desde cedo. Estudos mostram que o paladar do ser humano é desenvolvido nos primeiros dois anos de vida e, com essa informação nas mãos, é entendida a importância de buscar uma alimentação mais natural possível para os pequenos, dentro e fora de casa.
Conversamos com Ana Beatriz Guidetti, Nutricionista Clínica e Docente do Curso de Nutrição Centro Universitário Amparense – UNIFIA (@anabeatrizguidetti). Segundo a profissional, “para desenvolver um bom paladar da criança e evitar a seletividade na vida adulta, é fundamental que os pais garantam uma boa oferta de alimentos aos filhos no período de introdução alimentar, a partir dos seis meses de vida”.
“Um ponto importante é que dos seis meses até dois anos, quando formamos o paladar e consolidamos os gostos, o que a criança consome nessa fase é proveniente dos pais, por isso, o pai e a mãe têm total responsabilidade em promover alimentos que satisfaçam as necessidades da fase em que os filhos se encontram e também para consolidar hábitos alimentares mais saudáveis”, complementa.
Outra profissional da área, a nutricionista e influenciadora, criadora do e-book “Café da manhã, lanches e lancheiras”, Paola Preusse (@paolapreusse), complementa: “o hábito alimentar da criança também está ligado à forma que ensinamos elas a comer e se relacionar com os alimentos.
Jamais os doces devem ser moedas de troca ou recompensas”, diz. “ Precisamos levar em consideração o equilíbrio de verdade da alimentação da criança. Não adianta dar alimentos adoçados com tâmara várias vezes por dia, por exemplo, porque estamos induzindo o hábito alimentar para o doce. Da mesma forma que devemos variar os itens das lancheiras entre os salgados e doces.”
Lancheiras saudáveis
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o ideal é que as crianças façam pelo menos cinco refeições ao dia, sendo que o café da manhã, o almoço e o jantar são as principais refeições, complementadas com dois lanches intermediários (na manhã e na tarde).
Ana Beatriz comenta que “estes lanches intermediários são importantes para o fornecimento de nutrientes e também para organizar os intervalos da alimentação das crianças”. Segundo a profissional, o segredo é ofertar os lanches com opções de cada grupo alimentar, como proteínas, carboidratos, gorduras boas e micronutrientes, como as frutas.
“Alimentos in natura como frutas com casca são ótimos, pois são fáceis de levar. Mas podem ser oferecidas também frutas já picadas e bem guardadas, água ou sucos naturais sem açúcar, iogurtes naturais, pão de forma integral com queijo branco ou queijo muçarela, bolo de frutas saudáveis, torta de legumes, muffins de frutas, biscoito polvilho e oleaginosas (castanhas)”, diz. A nutricionista Paola complementa: “Toda lancheira de criança a partir de dois anos precisa ser nutritiva e com mais opções que ‘descascam’ do que ‘desembalam”. Ela lembra que não se pode esquecer da hidratação, com água.
A nutricionista Ana Beatriz ressalta que outro ponto importante é montar a lancheira junto com a criança, pois a montagem se torna interessante e ajuda no processo da educação alimentar. Para Paola, o cardápio pode ser montado com frutas, vegetais (palitos de pepino, tomate, palitos de cenoura), carboidratos como fonte energética (batata doce cozida, bolos caseiros, torta salgada, pães, milho cozido) e proteínas como fonte construtora (iogurte, queijos). “Pasta de homus e de tofu também são opções bacanas e versáteis para a lancheira”, diz.
Lanche na escola
Mas e quando o lanche é oferecido pela própria escola? Pensando na saúde das crianças, colégios do Rio de Janeiro e de São Paulo têm feito ações para estimular crianças e jovens a ter uma alimentação saudável e limpa.
O Colégio Itamarati, localizado em Ribeirão Preto (SP), por exemplo, conta com uma cantina saudável. “Servimos somente salgados assados, temos opções de snacks saudáveis como chips de mandioquinha e batata doce. Além disso, diariamente temos salada de frutas, frutas secas, sanduíches e sucos naturais. Para o almoço, servimos refeições equilibradas, com saladas, arroz, feijão, refogado, duas proteínas e um acompanhamento”, lista Caio, responsável pelo local.
Já no estado do Rio de Janeiro, mais precisamente em Niterói, o Colégio Marília Mattoso possui uma nutricionista parceira, Patrícia Viana Costa, que ajuda na elaboração de um cardápio balanceado e em uma alimentação rica em nutrientes. “A alimentação saudável é um hábito que se deve cultivar desde cedo e isso depende dos esforços da família e da escola, que devem formar uma parceria nesse processo. O crescimento saudável das crianças depende diretamente de uma alimentação adequada. Uma prova disso é que a OMS a considera um direito humano fundamental. A escola é uma aliada importantíssima e a educação alimentar tem se tornado uma extensão da proposta pedagógica”.
A profissional lembra que algumas crianças tendem a recusar alguns alimentos após os 2 anos de idade e, para evitar isso, ela dá dicas para pais e professores. “Comer alimentos saudáveis na frente da criança, mostrando como são saborosos. A observação favorece a aceitação. Outro ponto é sempre buscar realizar as refeições em ambiente calmo e tranquilo. Variar a preparação do alimento é um ótimo aliado, pode se mudar o corte, a aparência e a textura. Sempre acrescentar um novo alimento ao que a criança já aceita de forma fácil. Essas atitudes podem facilitar muito o trabalho dos responsáveis pela alimentação”.
Patrícia dá uma dica de ouro para ajudar os pais a criarem o hábito saudável dentro de casa: “Minha melhor dica começa na ida ao mercado. Vá alimentado, sem fome, assim você reduz o impulso de comprar aquelas guloseimas que quer evitar. Não leve as crianças, elas se encantam com o colorido das embalagens, e evite as prateleiras de processados. Cozinhe mais com seus filhos, descasque mais, isso conecta a família e traz momentos de surpresa e felicidade. Se tiver dúvidas na hora de escolher a preparação, abuse das cores no prato, isso garantirá variedade de nutrientes e uma bela visão do que comer!”, diz a nutricionista.
Falta de nutrientes e doenças
Além de evitar doenças provenientes da obesidade, a deficiência de nutrientes numa criança pode acarretar também transtornos mentais. A psicóloga especialista em Psiquiatria Nutricional e graduanda em Nutrição, Bruna Akui Canha (@bruna_akui_canha), diz: “Uma alimentação não saudável, aquela que abusa da ingestão de alimentos ultraprocessados (biscoitos recheados, refrigerante, salgadinhos de pacote, entre outros), açúcares e gorduras trans, faz com que as crianças desenvolvam obesidade, diabetes, ansiedade, depressão, hiperatividade, entre outros. Essas doenças podem, mais tarde, gerar transtornos alimentares como anorexia, bulimia, entre outros”. “ É sempre bom lembrar que nem sempre o magro é saudável. Existem crianças magras diabéticas e com colesterol alto, cujos pais apenas descobrem pois fazem exame de sangue, por conta de reclamações de dor de cabeça e indisposição”, complementa.
Leia a entrevista completa da psicóloga ao final da reportagem.
Receitas saudáveis e descomplicadas!
Abaixo, a D’Idées Magazine selecionou receitas fáceis e saudáveis para as lancheiras das crianças!
Bolo de caneca de banana com aveia
Nutricionista Ana Beatriz Guidetti
@anabeatrizguidetti
INGREDIENTES:
1 banana,
2 colheres (sopa) de aveia em flocos,
1 ovo,
1 colher e 1/2 (café) de fermento em pó
MODO DE PREPARO:
misture em uma tigela a banana amassada, o ovo, a aveia e, por último, o fermento.
Unte uma caneca com margarina ou óleo e polvilhe canela ou farinha de aveia em todo o seu interior.
Coloque a massa na caneca e leve ao microondas por 1 minuto e 30 segundos.
Desenforme e sirva.
Foto: reprodução Pinterest / ilustrativa
Iogurte grego caseiro
Panqueca de Banana
Nutricionista Paola Preusse @paolapreusse
Panqueca de queijo
Nutricionista Ana Beatriz Guidetti
@anabeatrizguidetti
INGREDIENTES:
1 col de sopa de tapioca,
1 ovo,
1 fatia de queijo muçarela,
2 rodelas de tomate
MODO DE PREPARO: Misture em uma tigela a tapioca e o ovo.
Na frigideira derrame essa massa e quando desgrudar vira do outro lado e doure por mais 1 minutos.
Acrescente o queijo e tomate até derreter e depois enrole como uma panqueca.
Pão de “beijo”
Nutricionista Paola Preusse
@paolapreusse
1 ovo;
3 batatas doces laranjas cozidas e amassadas; 1/2 xícara de polvilho doce;
1 xícara de polvilho azedo;
pitada de sal;
punhadinho de chia;
punhadinho de gergelim;
Punhadinho de salsinha desidratada.
Modo de preparo:
misture a salsinha, sal, chia, gergelim e o ovo na batata doce amassada. Coloque os polvilhos aos poucos e mexa bem. Molde no formato preferido, leve ao forno pre aquecido, 180°, até eles estarem dourados.
DICA: o palitinho fino ficou demais de gostoso! As pontinhas mais crocantes e o meio puxa-puxa, tipo pão de queijo! Além de ser um formato “novo”, facilita na hora dos pequenos comerem.
Veja a receita completa aqui.
Suco Refrescante
Nutricionista Ana Beatriz Guidetti @anabeatrizguidetti
INGREDIENTES: 250ml de água de coco gelada, 12 uvas verdes ou vermelhas, 5 folhas de hortelã
MODO DE PREPARO: bater tudo no liquidificador, coar e beber ou colocar na garrafinha para a criança levar na escola.
Cookie de baunilha com chocolate
Nutricionista Ana Beatriz Guidetti @anabeatrizguidetti
Ingredientes: 200g de manteiga sem sal em temperatura ambiente, ¾ de xícara (chá) de açúcar cristal, ¾ de xícara (chá) de açúcar mascavo, 2 ovos, 1½ colher (chá) de essência de baunilha, 2¼ xícaras (chá) de farinha de trigo integral, 1 colher (chá) de bicarbonato de sódio, ½ colher (chá) de sal,1½ xícara de chocolate picado meio amargo.
Modo de preparo: bata na batedeira a manteiga e os açúcares até ficar um creme. Adicione os ovos, um a um, batendo bem entre cada adição. Coloque a baunilha. Em outro recipiente, misture a farinha, o bicarbonato, o sal e o chocolate picado. Adicione à batedeira e bata até incorporar. Forre uma assadeira com papel manteiga. Com uma colher de sobremesa, faça bolinhas de massa. Asse de 12 a 15 minutos, em forno médio. Os cookies ainda estarão moles quando saírem do forno e ficarão mais firmes quando esfriarem.
Almôndega Saudável
Nutricionista do Colégio Itamarati (Ribeirão Preto/SP)
Ingredientes: 1 Kg de patinho moído, 2 ovos inteiros, 1 colher de sopa de farinha de trigo, 1 colher de sopa de farinha de rosca, 2 cebolas, 10 gramas de sal,Salsa e pimenta do reino a gosto
Modo de Preparo: junte a carne moída com as cebolas raladas. Adicione os ovos, as farinhas, a salsa, a pimenta e o sal. Confira o tempero.
Faça bolinhas de aproximadamente 30 gramas. Passe óleo sobre as almôndegas.
Asse em assadeiras forradas com papel alumínio untadas com óleo por 20 minutos, a 180°C, ou até que fiquem douradas.
Também pode fazer em fritadeiras elétricas sem óleo.
Molho de Tomates Caseiro
Ingredientes: 1,5 KG de tomates maduros, 15 gramas de sal, 2 colheres de sopa de azeite, 2 cebolas, 3 dentes de alho fresco, 1 cenoura, Orégano a gosto
Modo de Preparo: lave e parta os tomates ao meio. Descasque as cenouras e pique grosseiramente.
Cozinhe por 30 minutos ou até que estejam macios. Bata no liquidificador e peneire para tirar as sementes.
Refogue a cebola ralada e o alho amassado no azeite. Adicione o orégano e deixe apurar por pelo menos 2 horas.
Você pode guardar o molho em potes de vidros e congelar por até 3 meses.
Montagem do prato: coloque as almôndegas assadas em uma travessa, adicione o molho de tomates e moçarela e leve para gratinar. Sirva com saladas, legumes assados e arroz integral.
ENTREVISTA
Nutrição x Transtornos Mentais
Você sabia que existe uma área da psiquiatria que estuda as relações entre a deficiência nutricional e o desenvolvimento de transtornos mentais, como ansiedade, depressão, anorexia, bulimia, e outras? Entrevistamos a psicóloga especialista em Psiquiatria Nutricional e graduanda em Nutrição, Bruna Akui Canha, que nos explica melhor sobre esta área de estudo.
O que é a psiquiatria nutricional?
A psiquiatria nutricional estuda a relação entre os transtornos mentais, a nutrição e seu comportamento alimentar, as alterações metabólicas e desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (diabetes, câncer, doenças respiratórias crônicas).
Uma alimentação não saudável, aquela que abusa da ingestão de alimentos ultraprocessados (biscoitos recheados, refrigerante, salgadinhos de pacote, entre outros), açúcares e gorduras trans, faz com que as crianças desenvolvam obesidade, diabetes, ansiedade, depressão, hiperatividade, entre outros. Essas doenças podem, mais tarde, gerar transtornos alimentares como anorexia, bulimia, entre outros.
Cabe ressaltar ainda que, hoje muitas crianças apresentam um transtorno denominado seletividade alimentar, que é se caracteriza pela recusa e/ou desinteresse em se alimentar de forma variada ou também pela preferência por certos tipos de alimentos. Esse comportamento normalmente ocorre durante a fase pré-escolar. De forma geral, alimentos ultraprocessados que são padronizados, tendem a ser preferidos por este público devido à pouca variação de gosto, cor, textura, etc. Já alimentos in natura podem sofrer variações devido ao processo produtivo e, desta forma, podem gerar frustração nas crianças e desinteresse por este grupo alimentar (uma maçã, por exemplo, pode estar mais ou menos doce).
De forma geral, todas as vitaminas e minerais são importantes para o bom funcionamento do organismo, porém durante a infância não podemos deixar de nos atentar:
- Vitamina B12 que é essencial para a saúde do cérebro. A falta dela pode prejudicar o crescimento e comprometer o sistema imune
- Ferro que é importante para o transporte de oxigênio para o cérebro e para a produção de neurotransmissores. A deficiência do mesmo pode levar à dificuldade de aprendizagem e problemas comportamentais. Crianças com deficiência de ferro apresentam maior irritabilidade e fadiga.
- Zinco que é um mineral essencial para a função cognitiva e sistema nervoso.
- Vitamina D é muito importante para o desenvolvimento do cérebro e está relacionada à função cognitiva também. A deficiência desta pode levar a criança à depressão, ansiedade, distúrbios neurológicos e raquitismo. Hoje em dia, com a vida moderna, mais agitada e digital, as crianças não têm tanta interação em ambientes externos (como antigamente as brincadeiras na rua, no quintal, etc) e acabam ficando privadas do sol, que é a principal fonte de vitamina D, além obviamente de alguns importantes alimentos tais como: salmão, ovo cozido , leite fortificado, ostra.
Como deve ser uma alimentação saudável para crianças, de forma a evitar desenvolvimento de doenças e transtornos mentais?
A alimentação saudável deve ser iniciada a partir da introdução alimentar, que ocorre por volta dos 6 meses de idade. Neste momento deve ser apresentada à criança toda variedade de frutas e verduras, bem como proteínas (alimentos in natura). É muito importante que a criança tenha contato e uma relação saudável com os alimentos, conhecendo e explorando texturas, gosto, cheiro, cor.
Existem vários métodos de introdução alimentar, mas o meu favorito é o BLW (Baby-led weaning), em português (tradução livre) significa desmame guiado pelo bebê. Este método parte do princípio de uma introdução alimentar gradual e natural, na qual o bebê pode fazer as escolhas e se auto alimentar, utilizando as mãos, sem colher ou garfo, sentindo a textura, cheiro dos alimentos. Ela estimula o contato sensorial, melhora a aceitação dos alimentos, o bebê vai conhecendo os alimentos puros e sem misturas sentindo o gosto real de cada alimento, diferente das papinhas e purês onde existem misturas e não precisam de muito esforço para a mastigação. Além disso, estimula a fala (o músculo da boca e desenvolve melhor) e ajuda a prevenir a obesidade, pois a criança vai conhecendo o seu limite e saciedade. É importante ressaltar que para implementação deste método é necessário a supervisão e orientação de um profissional da nutrição, pois existem etapas para a inclusão de cada alimento, forma de cozimento e corte para evitar riscos de engasgos e recusa existe uma forma correta de apresentação de cada alimento.
Na sua opinião, o que se deve evitar ingerir de qualquer forma?
Costumo dizer que não existem alimentos proibidos e sim alimentos que devem ser evitados, sendo os principais os ultraprocessados (bolachas recheadas, salgadinhos, macarrão instantâneo), os embutidos (salsicha, salame, presunto), os açucarados, as gorduras trans, os alimentos pobres em nutrientes, vitaminas e minerais.
É importante sempre ler os rótulos dos alimentos e não apenas a embalagem na frente, muitas vezes nos rótulos de bolachas ditas como saudáveis encontramos corantes cancerígenos, e o corante caramelo é um deles.
Outro ponto muito importante a se evitar são os potes de plásticos com BPA para guardar ou congelar alimentos. Sempre que comprar esses potes, prefira os de vidro. Para as crianças, compre os que possuem o certificado livre de BPA (Bisphenol A). BPA é uma substância que pode ser cancerígena e causar problemas hormonais e cardíacos.
Pensando na sua área, quais os principais cuidados que devemos ter com a alimentação das crianças?
Devemos ensinar as crianças o porquê do comer, o que cada fruta e verdura tem de benefício, levar as crianças ao hortifrúti e na feira. Pode ser um passeio incrível e que hoje em dia as crianças não fazem mais devido à correria do dia a dia. É muito válido também, dentro do possível e com a devida avaliação dos riscos, incluir a criança no processo de preparação do alimento comprado.
Sabemos que, principalmente, com a entrada da mulher no mercado de trabalho, a mãe não fica mais em casa cozinhando como antigamente para a família, e muitas vezes a criança passa o dia na escola, onde a lancheira já está pronta com alimentos fáceis, que apenas são desembalados. Quando chegam em casa para jantar, os pais também já cansados acabam preparando um macarrão instantâneo para comer e dormir . E sem perceber, a criança chega à adolescência com hábitos alimentares incorretos, e talvez com doenças desenvolvidas a partir desta dinâmica criada pelos próprios pais.
Quando os pais recorrem a terapeutas alimentares para ajudar com a alimentação dos seus filhos, na maioria das vezes, fica evidente que o problema não está nas crianças e sim nos pais.
Pensando na questão da anorexia, crianças magras são necessariamente saudáveis?
O tema sobre estética e saúde é um tema que gera bastante polêmica, pois nem sempre o magro é saudável, diferente do que por muito tempo ouvimos na mídia. Existem crianças magras diabéticas e com colesterol alto, cujos pais apenas descobrem pois fazem exame de sangue, por conta de reclamações de dor de cabeça e indisposição. Vejo na academia onde meu filho frequenta, por exemplo, muitos coleguinhas fazendo atividades físicas (natação, judô, capoeira, futebol) e na hora do lanche, comendo bolacha recheada, refrigerante, salgadinhos. Crianças magras e aparentemente saudáveis, mas que talvez não o sejam.
Devemos estar sempre atentos no que estamos dando para nossos filhos comerem, devemos descascar mais e desembalar menos, buscar alimentos ricos em vitaminas, minerais, e não apenas alimentos que saciem a fome por um curto período, sem o devido valor nutricional. Comer realmente atento prestando atenção no alimento, no sabor, na textura, e não em frente de telas. O comer intuitivo é o segredo para uma alimentação saudável.
Recomendo aqui o documentário Muito além do peso, que mostra a triste realidade de nossas crianças obesas, diabéticas e desnutridas. Um documentário duro, mas esclarecedor.
Como deve ser uma lancheira saudável?
A lancheira deve ter alimentos de preferência in natura ou minimamente processados, podendo ser uma fruta, pão, patê, iogurte… gosto muito da opção de pão com ovo, ovo de codorna, patê homus com torradinhas integrais, açaí com granola, palitinhos de cenoura, o ideal é que sempre a criança participe do processo de escolha do lanche e se possível da compra também. Quando a criança participa desse processo tudo fica fácil. Podemos também fazer cortes de frutas em formatos divertidos, espetinhos de frutas e escrever recadinhos na casca da banana. As crianças adoram!